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Existe vantagem em beber leite de égua? Saiba o que diz a ciência

Aumentou na Europa o consumo desse leite doce e leve devido a seus supostos efeitos terapêuticos


Ana Blanco Doval
Cientista de alimentos
Universidade do País Basco


Luis Javier Rodríguez Barron
Catedrático em Tecnología de Alimentos
Universidade do País Basco


Noelia Aldai
pesquisadora sênior
Universidade do País Basco


The Conversation
plataforma de informação
e análise produzida por 
acadêmicos e jornalistas

O poeta romano Juvenal disse que Popeia Sabina, esposa de Nero, viajou com uma legião de burros para se lavar com leite. Diz-se também que, no antigo Egito, Cleópatra se banhava em leite da mesma fonte para manter a pele macia e suave, e que Isabel da Baviera (mais conhecida como Imperatriz Sissi) o utilizava em seus rituais de beleza.

Hoje em dia, outro leite equino, o leite de égua, assumiu o prestígio e está ganhando popularidade na Europa pelos seus supostos benefícios terapêuticos. É justificado? O que a ciência diz sobre suas propriedades?

Este alimento é bem conhecido em alguns países asiáticos, como Mongólia, Rússia, China, Cazaquistão ou Uzbequistão. Historicamente, tem sido utilizado para tratar doenças, melhorar o sistema imunológico e proporcionar vitalidade.

O leite de égua também tem servido frequentemente como substituto do leite materno, dadas as semelhanças em sua composição. E como tem uma resposta alérgica baixa em crianças com alergia à proteína do leite de vaca, é potencialmente útil como alternativa ao leite em pó.

Hoje seu consumo está se difundindo em nosso meio, principalmente na forma de leite em pó (liofilizado), como suplemento alimentar ou mesmo como ingrediente de cosméticos para quem confia em seus benefícios para a pele. 

O leite de égua é doce e leve, embora não seja comum encontrá-lo no formato líquido.

Diferenças

Uma rápida pesquisa na Internet mostrará uma longa lista de sites que promovem as “propriedades terapêuticas” do leite de égua. Destaca-se o conteúdo de ácidos graxos, minerais, vitaminas e aminoácidos essenciais. Mas não é exatamente isso que a ciência diz.

Para começar, é importante ter em mente que todos os tipos de leite, inclusive o de vaca, contêm em maior ou menor quantidade gordura (e ácidos graxos), lactose, proteínas, aminoácidos essenciais, vitaminas e minerais, além de muitos outros compostos.

Ainda não há evidências 
sobre os supostos benefícios
do consumo do leite de 
égua por humanos

Os aminoácidos são unidades estruturais das proteínas (como os elos de uma cadeia) e podem ser classificados como não essenciais e essenciais, dependendo se o corpo pode ou não produzi-los.

Portanto, alimentos ricos em aminoácidos essenciais são essenciais para o bom funcionamento do metabolismo. E embora seja verdade que as proteínas do leite de égua as contenham, elas também são encontradas em qualquer outro tipo de leite.

Por outro lado, os ácidos graxos são um tipo de molécula que constitui a maior parte dos lipídios (ou gorduras) que consumimos em alimentos como laticínios, carne ou óleo. O leite de égua (assim como o leite humano) caracteriza-se por apresentar baixo teor de gordura: entre 0,3 e 2%. O leite de vaca e ovelha, por exemplo, contém 3 a 5% e 5 a 9%, respectivamente.

Além disso, a gordura deste leite tem uma composição muito diferente da de outros animais. Por ser monogástrico (não ruminante), o sistema digestivo do cavalo absorve e acumula no leite uma maior quantidade de ácidos graxos ômega-3 (principalmente ácido linolênico) e ômega-6 (principalmente ácido linoléico). Essenciais para o bom funcionamento do organismo, esses ácidos graxos são necessariamente obtidos por meio da alimentação, o que fala a favor do leite de égua.

Deve-se destacar também que possui baixo teor tanto de gordura total quanto de outros ácidos graxos ômega-3 de grande interesse, como EPA e DHA. Isto limita o seu apelo como fonte de ácidos graxos benéficos.

Quanto às vitaminas e minerais, o leite de égua geralmente contém pouco conteúdo, com exceção da vitamina C e do ferro.

Propriedades saudáveis

Conforme a legislação europeia, para declarar uma propriedade saudável num alimento, é necessária a aprovação da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA). E isso só acontece quando há evidências científicas suficientes para apoiá-lo.

Atualmente, não existem propriedades sanitárias autorizadas para o leite de égua, pelo que alegações comuns como “melhorar o sistema imunitário” ou “aumentar a vitalidade” não são verificadas nem justificadas do ponto de vista científico.

É claro que isso não significa que não tenha virtudes, mas até hoje não há evidências suficientes a esse respeito. E embora estudos recentes tenham mostrado um benefício potencial contra diabetes tipo 2, câncer ou doenças de pele, esses trabalhos ainda são preliminares e muito escassos.

No que diz respeito às alegações de propriedades terapêuticas, a legislação europeia não autoriza alegações de que um alimento previne, trata ou cura uma doença, pelo que as alegações neste sentido também não são justificadas.

Em suma, embora o leite de égua tenha baixo teor de gordura, proteínas, minerais e vitaminas em comparação com a maioria do leite que consumimos — incluindo o leite de vaca —, contém elementos de grande interesse para a nutrição humana, como os ácidos graxo ômega e ômega. Ainda há um longo caminho de pesquisas para demonstrar suas promissoras qualidades saudáveis.

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