Pular para o conteúdo principal

Para você enxergar bem, os olhos precisam se mover. Por quê?

Nossos olhos se movem com rapidez e em vários sentidos, e não temos consciência de para onde estamos olhando exatamente


Maria do Pilar Aivar Rodriguez
professora de psicologia e pesquisadora sobre percepção e atenção, atua na Universidade Autônoma de Madrid, Espanha

Victoria Plaza
pesquisadora dos processos de aprendizagem e na memória humana. Atua na Universidade Autônoma de Madrid

The Conversation
plataforma de informação e análise produzida por acadêmicos e jornalistas

Tendemos a pensar que nossos olhos funcionam igual a uma câmera. Em parte é assim: os olhos têm a estrutura de uma câmera escura e possuem lentes (córnea, cristalino) que refratam a luz. Porém, há uma diferença fundamental: nossos olhos só enxergam bem se se movimentarem!

Se movermos a câmera ao tirar uma foto, o resultado será muito ruim. Mas isso não acontece no caso da visão. Precisamos mover nossos olhos para ver corretamente.

É muito fácil demonstrar a importância do movimento ocular. Se olharmos atentamente para a cruz central da imagem abaixo por cerca de 10 segundos, veremos que as diferentes cores começam a se misturar e desaparecer. Assim que movermos nossos olhos, eles ficarão visíveis novamente.

Diferenças de cores
"somem" se o olhar se
fixar na pequena cruz

Este efeito é denominado efeito Troxler, em homenagem ao seu descobridor. Mostra que o movimento ocular é importante para não esgotar as células receptoras da retina (bastonetes e cones). Portanto, mesmo quando mantemos o olhar fixo em um ponto, nossos olhos nunca ficam completamente imóveis

Como os olhos se movem?

É muito interessante ver a diversidade de formas como nossos olhos se movem. Podemos manter nosso olhar fixo em um objeto em movimento para segui-lo. Neste caso, os olhos se moverão na mesma velocidade do objeto. Quando os objetos se aproximam ou se afastam de nós, também movemos os olhos para poder focar com clareza. Se movermos a cabeça ou o corpo, os olhos compensam o efeito desse movimento para que nosso olhar fique estável.

Também podemos mover nosso olhar de um objeto para outro. Esses movimentos são chamados de sacadas e nos fornecem muitas informações sobre como resolvemos muitas tarefas. As sacadas ocorrem com muita frequência, cerca de três vezes por segundo. Ou seja, estamos continuamente mudando a posição do nosso olhar.

Como podemos saber o que estamos vendo?

O movimento ocular é estudado principalmente com sistemas de gravação baseados em infravermelho. Esses aparelhos emitem luz infravermelha (invisível para nós) e registram como ela é refletida na superfície do olho, de forma inofensiva. Com essa informação, eles podem estimar a posição do olhar.

Existem vários modelos com características diferentes. Alguns são adequados para analisar como as tarefas são executadas em uma tela: ler, analisar uma imagem, um vídeo ou um site. Outros permitem registrar o nosso olhar em tarefas mais ativas, por exemplo, ao pegar objetos ou caminhar. No nosso grupo de pesquisa e na UAM temos vários modelos diferentes (EyeLink, Tobii, Pupil Labs).

Para onde exatamente olhamos?

O estudo das sacadas nos permitiu saber detalhadamente o que vemos e o que não vemos. Esta seleção depende principalmente da tarefa que estamos realizando. Aqui resumimos os resultados mais interessantes:

Selecionamos o que é importante. O olhar é direcionado apenas para os objetos que vamos utilizar ou para as áreas informativas da cena. Outros elementos são ignorados. É como se eles não existissem. Por exemplo, se procurarmos algo vermelho, dificilmente prestaremos atenção em objetos de outras cores. Se olharmos para um rosto, focaremos nos olhos e na boca, porque isso nos ajuda a compreender as palavras e expressões da outra pessoa.

Quase sempre sabemos onde encontrar as informações relevantes. Em contextos conhecidos, o olhar é direcionado com muita precisão para a posição exata dos objetos. Noutras situações, olhamos para as áreas onde é mais provável encontrá-los. Por exemplo, procuraremos uma chávena numa superfície antes de procurarmos em locais mais improváveis, como o chão. Também aprendemos rapidamente onde encontrar objetos relevantes para uma tarefa.

Procuramos informações exatamente quando elas são necessárias. O olhar salta de objeto em objeto, mas de forma que obtemos a informação justamente quando precisamos dela. É por isso que podemos não ver algo, como um sinal de trânsito, se estiver no lugar errado ou onde não esperamos. Em tarefas mais complexas podemos antecipar o que vamos precisar e analisar antes de precisarmos.

O olhar tem um papel central no controle da ação. Quando movemos as mãos ou o corpo, a posição do nosso olhar muitas vezes indica para onde vamos realizar a ação ou para onde vamos. Por exemplo, se vamos pegar um copo, olharemos para o centro de sua superfície, onde o seguraremos com os dedos. Porém, se vamos enchê-lo com água olharemos para a borda superior do copo. Quando caminhamos em terreno difícil, nosso olhar antecipa nossos pés em alguns passos.

Não temos consciência de para onde estamos olhando exatamente. Se você nos perguntar, teremos dificuldade em dizer quais objetos olhamos. Por exemplo, pensamos que ao ler arrastamos os olhos pelas palavras, mas na realidade os nossos olhos saltam, percorrendo várias palavras ao mesmo tempo. Acreditamos também que a melhor estratégia para acertar uma bola é segui-la com os olhos. No entanto, bons jogadores antecipam a sua posição futura. Nossos olhos são mais rápidos que nosso pensamento.

Por que é útil saber tudo isso?

O estudo do movimento dos olhos nos dá muitas informações. Permite compreender em que prestamos atenção ao realizar tarefas complexas e rápidas, como desporto e condução. Também nos ajuda a compreender por que temos dificuldade em detectar coisas relevantes, como um sinal de dano numa mamografia.

No ambiente clínico, permite-nos compreender com maior profundidade os problemas sofridos, por exemplo, pelos pacientes de Parkinson e pelas pessoas com perturbações do espectro do autismo. 

O olhar abre uma janela para o funcionamento da nossa mente.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Cápsulas de papelão com sementes podem auxiliar na restauração ecológica do Cerrado

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Vídeo de pastor mostra criança em situação de constrangimento

Imagens pegam menina em close se contorcendo no chão Um vídeo de 3 minutos [ver trecho abaixo] do ministério do pastor Joel Engel, do Rio Grande do Sul, expõe uma criança em situação de constrangimento ao mostrá-la se contorcendo no chão ao lado do seu pai, em uma sessão de descarrego. Pelo artigo 232 do Eca (Estatuto da Criança e do Adolescente), comete crime quem submete menor de idade sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexames ou constrangimento. É o caso deste vídeo. Na gravação, a mãe diz o nome da filha. Ao final, Engel afirma: “O que Deus está fazendo aqui é impressionante”. Em outra oportunidade, Angel já tinha passado por cima do Eca ao pegar como oferta o único par de tênis de um menino, deixando-o descalço e com o rosto de choro. . Se o Conselho Tutelar e o Ministério Público tivessem enquadrado na época o pastor, ele certamente agora pouparia a menina do vexame. Imagens vexatórias Pastor Joel Engel pega como oferta único par de tênis de

Textos bíblicos têm contradições, mas as teorias científicas também

por Demetrius dos Santos Silva , biblista, a propósito de Quem Deus criou primeiro, o homem ou os animais? A Bíblia se contradiz Por diversas vezes vejo pessoas afirmarem ideias sobre a Bíblia baseadas em seus preconceitos religiosos ou seculares. Todo preconceito é baseado em uma postura fanática onde o relativo é assumido como absoluto. Nesse sentido, qualquer ideia ou teoria deve-se enquadrar dentro da visão obtusa do fanático. É como uma pessoa que corta a paisagem para caber dentro de sua moldura. O quadro é assumido como se fosse a paisagem verdadeira e tudo o que está fora de seu quadro é desconsiderado. Quando o assunto é a Bíblia, muitas pessoas abandonam os critérios literários e assumem uma postura pseudocientífica que revela seus profundos preconceitos sobre as religiões e seus livros sagrados. A palavra Bíblia vem da língua grega “Biblos” e significa: livros. A Bíblia é uma biblioteca. Nela encontramos diversos gêneros literários: poesia, prosa, leis, oráculos pro

Atea pede a colégio de Esteio que impeça bullying a aluno ateu

Aluno disse que escola tornou obrigatório o ensino religioso A Atea (Associação de Ateus e Agnósticos do Brasil) enviou ofício ao Colégio Estadual Augusto Meyer, de Esteio (RS), para que impeça que um de seus alunos de 1º grau continue sendo alvo de bullying por não acreditar em Deus. O jovem relatou à associação que a diretora e vice-diretora da escola impõem o ensino religioso no currículo como se fosse obrigatório, sendo que, pela lei, trata-se de uma disciplina facultativa. Ele contou que a professora de religião e a classe riram pelo fato dele ser ateu. O site do colégio informa que a diretora é Nara Machado e que também é professora de sociologia no Colégio Estadual Guianuba. A vice-diretora é Maria Cristina Centeno Fernandes. Trata-se da professora mais antiga do colégio. No ofício assinado com a data de hoje (18) pelo seu presidente, Daniel Sottomaior, a Atea avaliou que se trata de um “incidente grave” cuja origem é a obrigatoriedade do ensino religioso. Afirmou

Sete países têm lei de pena de morte a ateus, revela relatório

Pena capital para céticos vigora  no Afeganistão, Irã, Maldivas, Sudão, Mauritânia, Paquistão e Arábia Saudita Os ateus e outros céticos religiosos sofrem perseguição ou discriminação em muitas partes do mundo e em pelo menos sete países podem ser executados se sua falta da crença se tornar conhecida. A informação é de relatório da IHEU (União Internacional Humanista e Ética) divulgado hoje (10). O relatório mostra que a situação dos “infiéis” é mais grave em países islâmicos, onde religião e Estado se confundem. As consequências para o cético às vezes podem ser brutais. Ele também aponta que em alguns países europeus e nos Estados Unidos as leis favorecem os religiosos e suas organizações e tratam os ateus e humanistas como cidadãos de segunda classe. O “A Liberdade de Pensamento 2012" afirma que "há leis que negam aos ateus o direito de existir, restringindo a sua liberdade de não ter nenhuma crença e de expressão. Também revogam sua cidadania e limitam seu

Partícula de Higgs é vitória da ciência sobre a religião

Representação das experiências do Centro de Pesquisa Nuclear por Lawrence M. Krauss  Tem havido muita comoção desde o dia 4 de julho, quando houve o anúncio de que o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear tinha descoberto evidências de uma nova partícula elementar, a Higgs, que os cientistas têm procurado há quase 50 anos e está no cerne da nossa melhor teoria atual sobre a formação do cosmo. Parte da comoção parece vir do fato de que a descoberta tem sido frequentemente chamada em círculos informais de “partícula de Deus”. Esse termo apareceu pela primeira vez no título infeliz de um livro escrito pelo físico Leon Lederman, há duas décadas. Mas, pelo meu conhecimento, nunca foi usado por qualquer cientista antes ou depois da descoberta da partícula, incluindo o próprio Lederman. Apesar disso, o termo "colou” no imaginário da imprensa. O que torna o termo “partícula de Deus” lamentável é que nada poderia estar mais longe da verdade. Porque a existência da partícula de Hig

Pastor que exigia 'boa conduta' de fiéis é condenado por estupro

Pastor abusou de crianças na faixa de 4 a 11 anos O pastor Manoel Teoplício de Souza Ribeiro (foto), 52, da Assembleia de Deus, exigia das fiéis “boa conduta”, como não usar calças compridas e maquiagem – coisas do demônio, segundo dizia. Mesmo sendo tão conservador, atraia muitos fiéis para a sua igreja em Samambaia, cidade próxima de Brasília. Ribeiro foi condenado a 50 anos e 10 meses de prisão por ter estuprado crianças na faixa de 4 a 11 anos, filhas de fiéis. A sentença, agora divulgada, tomada há um mês pela Justiça do Distrito Federal. O pastor já se encontrava preso preventivamente desde junho de 2011. Ele alegou à polícia ter conhecimentos de medicina e que, por isso, levava as filhas de fiéis para sua casa de modo a tirar delas “maus fluidos” por intermédio de massagens. Só que  massageava principalmente a genitália das meninas, de acordo com as denúncias. Ele abusava das crianças desde 2005 e as ameaçava para que não contassem nada a ninguém. Uma fiel