O uso de dispositivos móveis facilita a comunicação, mas o excesso pode causar ansiedade, stress emocional e depressão
José Luis Serrano
Tanto a internet como as redes sociais podem ser saudáveis ou não, dependendo do uso que lhes damos. Exemplos do segundo são a rolagem zumbi (deslizar pela tela sem mal perceber o que estamos vendo), a ciberpreguiça, a multitarefa e as interrupções constantes.
A própria tecnologia pode nos proteger dela mesma, se houver comprometimento do usuário. Por exemplo, com a adoção de aplicações digitais de bem-estar. Um estudo concluiu que o seu sucesso ocorre em pessoas com elevado nível de consciência do papel que o celular tem nas suas vidas.
Pesquisas recentes não estabelecem uma relação direta entre tempo de uso e bem-estar. Mas cada pessoa deve identificar onde está sua linha vermelha de carga mental. Você pode então limitar a duração do uso e escolher o momento mais apropriado para usar a mídia digital.
Um exemplo que ilustra a ideia anterior: 15 minutos de uso de uma tela antes de dormir podem prejudicar mais a saúde geral do que ficar conectado por uma hora à tarde.
O objetivo não é nos desintoxicarmos do digital, mas aprender a controlar seu uso para viver o melhor de cada mundo. O psicólogo Luis Muiño expressa assim: “Saber que estamos fugindo temporariamente do mundo real e ter controle para voltar a ele é fundamental da nossa relação com o mundo das máquinas".
José Luis Serrano
catedrático de Tecnologia Educacional, Universidade de Múrcia, Espanha
The Conversation
Tecnologia sim ou tecnologia não? Essa é a grande questão.
No nosso dia a dia, e muitas vezes através dos próprios dispositivos móveis, recebemos uma enxurrada de mensagens que contribuem para uma visão polarizada da tecnologia.
The Conversation
plataforma de informação e análise produzida por acadêmicos e jornalistas
Tecnologia sim ou tecnologia não? Essa é a grande questão.
No nosso dia a dia, e muitas vezes através dos próprios dispositivos móveis, recebemos uma enxurrada de mensagens que contribuem para uma visão polarizada da tecnologia.
Alguns estudos alertam para os seus efeitos negativos como depressão, ansiedade, stress, exaustão emocional, sedentarismo ou pior qualidade do sono.
Mas ao mesmo tempo há outros que reconhecem a sua importância para a comunicação, a formação de relacionamentos , a autoexpressão, a gestão da informação, o ensino ou a aprendizagem. Embora também reconheçam que, atualmente, se desconhece a real influência que os ecrãs têm na saúde ou na educação.
Modo zumbi: navegar rapidamente por telas sem se dar conta do conteúdo delas IMAGEM: CRIAÇÃO DE IA |
Tanto a internet como as redes sociais podem ser saudáveis ou não, dependendo do uso que lhes damos. Exemplos do segundo são a rolagem zumbi (deslizar pela tela sem mal perceber o que estamos vendo), a ciberpreguiça, a multitarefa e as interrupções constantes.
Portanto, ao utilizarmos os dispositivos móveis é aconselhável fazer pausas frequentes, incorporar lanches de atividade física e controlar tempo que passamos em frente às telas.
Um conceito relativamente novo que surgiu em decorrência desses problemas é o detox digital, uma estratégia que nasceu com a promessa de fazer desaparecer os efeitos do uso excessivo.
Um conceito relativamente novo que surgiu em decorrência desses problemas é o detox digital, uma estratégia que nasceu com a promessa de fazer desaparecer os efeitos do uso excessivo.
O mito da ‘detox’ digital
A desintoxicação digital consiste em uma pausa voluntária no uso da tecnologia. Pode ser 24 horas ou uma semana, e tem como objetivo reduzir o tempo de conexão, e com ele o estresse, a ansiedade, a depressão, o vício ou a sobrecarga cognitiva que o uso continuado de celulares, tablets ou computador pode estar nos causando.
Um estudo recente com 850 participantes alemães (entre 18 e 65 anos) não concluiu que o uso mais contínuo ou intermitente do celular tivesse impacto no bem-estar mental. Em vez disso, variáveis como o tipo de atividade, a hora do dia e traços de personalidade como extroversão ou introversão desempenham um papel mais significativo, segundo outras pesquisas.
Uma revisão sistemática concluiu que a desconexão ocasional não tem relação direta com o bem-estar, o autocontrole ou a saúde geral.
Afastar-se drasticamente da tecnologia com restrições e sem mudança de hábitos não causará mudanças efetivas. Podemos escapar temporariamente do mundo digital, mas os nossos hábitos continuarão a esperar por nós.
Fazer desconexões ocasionais, pelo contrário, pode servir para iniciar processos de reflexão e tomar consciência do uso que fazemos da tecnologia. Esta conclusão foi alcançada num dos primeiros estudos sobre desconexão digital publicado em 2012. Participaram 1.000 estudantes universitários de dez países diferentes e tentaram passar 24 horas sem meios tecnológicos.
Em 2017, replicamos o estudo anterior. Até à data, 539 estudantes da Universidade de Múrcia tentaram passar 24 horas desligados da TV, tablet, computador e celular. Apenas um terço conseguiu, mas o mais importante foi o autoconhecimento adquirido.
Os alunos tomaram consciência do uso abusivo que fazem muitas vezes das tecnologias. Também sobre a influência das mídias digitais no seu dia a dia. Eles perceberam a dependência da tecnologia, uma melhora na concentração e uma diminuição nas interrupções durante o tempo de desligamento.
No entanto, eles tiveram dificuldades em concluir tarefas acadêmicas ou em se comunicar com outras pessoas. Alguns alunos expressaram sentir-se isolados e ansiosos por falta de informação.
Precisamos considerar como o nosso dia a dia, marcado pelo estresse, pelo isolamento social, pelo sedentarismo ou pela falta de sono, diminui a nossa capacidade de autocontrole. Isso faz com que fiquemos menos atentos e tomemos decisões piores.
Muitas vezes culpamos os algoritmos das redes sociais por chamarem a nossa atenção. No entanto, foi recentemente demonstrado que são as interrupções internas das pessoas que causam distrações.
Um estudo recente com 850 participantes alemães (entre 18 e 65 anos) não concluiu que o uso mais contínuo ou intermitente do celular tivesse impacto no bem-estar mental. Em vez disso, variáveis como o tipo de atividade, a hora do dia e traços de personalidade como extroversão ou introversão desempenham um papel mais significativo, segundo outras pesquisas.
Uma revisão sistemática concluiu que a desconexão ocasional não tem relação direta com o bem-estar, o autocontrole ou a saúde geral.
Afastar-se drasticamente da tecnologia com restrições e sem mudança de hábitos não causará mudanças efetivas. Podemos escapar temporariamente do mundo digital, mas os nossos hábitos continuarão a esperar por nós.
Fazer desconexões ocasionais, pelo contrário, pode servir para iniciar processos de reflexão e tomar consciência do uso que fazemos da tecnologia. Esta conclusão foi alcançada num dos primeiros estudos sobre desconexão digital publicado em 2012. Participaram 1.000 estudantes universitários de dez países diferentes e tentaram passar 24 horas sem meios tecnológicos.
Em 2017, replicamos o estudo anterior. Até à data, 539 estudantes da Universidade de Múrcia tentaram passar 24 horas desligados da TV, tablet, computador e celular. Apenas um terço conseguiu, mas o mais importante foi o autoconhecimento adquirido.
Os alunos tomaram consciência do uso abusivo que fazem muitas vezes das tecnologias. Também sobre a influência das mídias digitais no seu dia a dia. Eles perceberam a dependência da tecnologia, uma melhora na concentração e uma diminuição nas interrupções durante o tempo de desligamento.
No entanto, eles tiveram dificuldades em concluir tarefas acadêmicas ou em se comunicar com outras pessoas. Alguns alunos expressaram sentir-se isolados e ansiosos por falta de informação.
Assumir o controle
Se quisermos realmente desfrutar do mundo digital, uma desconexão oportuna nos ajudará a tomar consciência do uso que fazemos da tecnologia. Mas se queremos realmente ser eficazes, é pertinente estar atentos e agir criando uma rede de hábitos duradouros que modifiquem os nossos comportamentos em ambientes digitais.Precisamos considerar como o nosso dia a dia, marcado pelo estresse, pelo isolamento social, pelo sedentarismo ou pela falta de sono, diminui a nossa capacidade de autocontrole. Isso faz com que fiquemos menos atentos e tomemos decisões piores.
Muitas vezes culpamos os algoritmos das redes sociais por chamarem a nossa atenção. No entanto, foi recentemente demonstrado que são as interrupções internas das pessoas que causam distrações.
Envolvimento do usuário
Segundo o neurocientista Nazaret Castellanos, “80% das distrações que nos sequestram surgem em casa, não fora”. Esse tipo de interrupção é geralmente motivado pela necessidade de busca por novas informações, reconhecimento social e medo de perder algo importante.A própria tecnologia pode nos proteger dela mesma, se houver comprometimento do usuário. Por exemplo, com a adoção de aplicações digitais de bem-estar. Um estudo concluiu que o seu sucesso ocorre em pessoas com elevado nível de consciência do papel que o celular tem nas suas vidas.
Planeje jejuns digitais intermitentes
É pouco provável que a tecnologia digital nos embriague, sublinhando uma limitação do conceito de desintoxicação digital. Em vez disso, propomos a estratégia do jejum digital intermitente, em que planejamos períodos específicos de uso consciente da tecnologia.Pesquisas recentes não estabelecem uma relação direta entre tempo de uso e bem-estar. Mas cada pessoa deve identificar onde está sua linha vermelha de carga mental. Você pode então limitar a duração do uso e escolher o momento mais apropriado para usar a mídia digital.
Um exemplo que ilustra a ideia anterior: 15 minutos de uso de uma tela antes de dormir podem prejudicar mais a saúde geral do que ficar conectado por uma hora à tarde.
A luz azul emitida pelos LEDs suprime a produção do hormônio melatonina. Isto perturba a regulação dos ritmos circadianos, o estado de alerta e o desempenho cognitivo durante o dia, de acordo com esta revisão.
Ou seja, aqueles 15 minutos antes de desligar a luz podem piorar o nosso descanso e isso tem consequências piores a médio prazo do que a hora de consumo digital à tarde.
Assuma o controle
Concluindo, a relação entre o uso da tecnologia e o bem-estar depende de muitas variáveis e da interação entre elas. Fatores culturais ou traços de personalidade influenciarão quais estratégias são mais eficazes para cada pessoa.O objetivo não é nos desintoxicarmos do digital, mas aprender a controlar seu uso para viver o melhor de cada mundo. O psicólogo Luis Muiño expressa assim: “Saber que estamos fugindo temporariamente do mundo real e ter controle para voltar a ele é fundamental da nossa relação com o mundo das máquinas".
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