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Mudança climática na América Latina queima montanhas, arrasa litorais e viola os direitos humanos

As Nações Unidas preveem que a região sofrerá os efeitos das mudanças climáticas com mais impacto


Christian Wolf
professor associado de astronomia e astrofísica, Universidade Nacional Australiana

The Conversation
plataforma de informação e análise produzida por acadêmicos e jornalistas

Os danos ambientais causados pelas mudanças climáticas estão se espalhando pelas Américas. El Niño, La Niña e outros eventos climáticos extremos associados, como secas, geadas e nevascas incomuns, incêndios florestais ou furacões, entre outros, tornaram-se comuns nos últimos anos. Isso gera impactos sobre os direitos das pessoas e coloca em risco as gerações futuras.

Em 25 de outubro de 2023, na costa do Pacífico do México, o furacão Otis deixou um saldo de 50 mortos e 30 desaparecidos. Essa tempestade de categoria 5 atingiu Acapulco com ventos máximos sustentados de 260 km/h e rajadas de até 315 km/h. Os números fazem dele o quarto ciclone tropical com o vento mais rápido da história no mundo e um dos furacões mais fortes já registrados no Pacífico mexicano.

O Otis não apenas deixou dezenas de pessoas mortas e desaparecidas, mas também causou graves danos à infraestrutura da região. Centenas de milhares de pessoas perderam suas casas e têm acesso limitado a água potável, saneamento, alimentos e assistência médica.

No Chile, a região de Valparaíso sofreu um dos piores incêndios de sua história. Até o início de fevereiro de 2024, 11 mil hectares foram destruídos, 112 pessoas morreram e mais de 3 mil casas foram queimadas.

Furacão Otis atingiu o México
em outubro de 2023, deixando
de 50 e 30 desaparecidos

FOTO: LIMBITECH / SHUTTERSTOCK

Conforme as Nações Unidas, a América Latina é uma das regiões onde os efeitos e impactos das mudanças climáticas serão mais intensos. Isso se reflete nas ondas de calor, na diminuição da produção agrícola, nos incêndios florestais, na destruição dos recifes de coral e nos eventos extremos de elevação do nível do mar.

Mudanças climáticas e os direitos humanos

Só em 2020, mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo foram deslocadas por desastres naturais, impactando diretamente seu direito à moradia e à educação.

De acordo com o UNICEF, mais de dois milhões de crianças na América Latina e no Caribe são afetadas todos os anos por um evento climático extremo ou desastre climático.

Em 2021, Guatemala, Honduras e Nicarágua foram os países latino-americanos mais afetados em relação ao direito humano à alimentação, com mais de 964 mil hectares de plantações danificadas.

Em 2022, um total de 1.153 mortes e 10 milhões de pessoas afetadas foram registrados na América Latina e no Caribe como consequência direta de eventos climáticos extremos.

O derretimento das geleiras está ameaçando os ecossistemas e a futura segurança hídrica de milhões de pessoas. No verão de 2022, houve uma perda quase total da cobertura de neve nas geleiras dos Andes Centrais. Já a seca na bacia do Paraná-Plata, um dos principais celeiros do mundo, foi a pior desde 1944.

A mudança climática compromete o gozo de todos os direitos humanos, incluindo o direito à vida, à moradia, à educação, à água e ao saneamento, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento, à segurança pessoal e a um padrão de vida adequado, entre outros.
O papel dos órgãos internacionais

Os órgãos internacionais de proteção dos direitos humanos podem fazer algo para aliviar o impacto sobre os direitos fundamentais das pessoas mais vulneráveis?

Tanto a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (IACHR) quanto a da Corte Europeia de Direitos Humanos (ECHR) destacam o vínculo entre as mudanças climáticas, a proteção ambiental e o cumprimento dos direitos humanos.

A Resolução 3001 da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), de junho de 2023 “Towards improved climate finance” (Rumo a uma melhor financiamento climático), reconhece os riscos enfrentados pelos Estados mais vulneráveis, bem como a necessidade de melhorar os esforços para enfrentar os danos causados pelas mudanças climáticas.

Ao nível global, em novembro de 2023, a Assembleia Geral das Nações Unidas fez uma solicitação à Corte Internacional de Justiça (CIJ) para esclarecer as obrigações dos Estados com relação às mudanças climáticas.

A solicitação pede, entre outras questões, uma avaliação de quais são as obrigações dos Estados de acordo com o direito internacional. Isso tem como objetivo garantir a proteção do sistema climático contra as emissões de gases de efeito estufa.

Alguns meses antes, em janeiro de 2023, as Repúblicas da Colômbia e do Chile solicitaram à CIDH um parecer consultivo com o objetivo de esclarecer o alcance das obrigações dos Estados, em sua dimensão individual e coletiva, para responder à emergência climática no âmbito do direito internacional dos direitos humanos.


Embora para aqueles que não estão familiarizados com o sistema internacional de proteção dos direitos humanos possa parecer que o recurso a esses órgãos tenha pouca utilidade, a realidade é bem diferente. 

Os documentos emitidos por esses órgãos tornam-se parte do acervo normativo internacional, que orientará as ações a serem tomadas pelos Estados que compõem a comunidade internacional a esse respeito.

Que podemos fazer?

Cada um de nós, na medida de nossas possibilidades, pode contribuir com ações diárias para estabelecer as bases necessárias para melhorar essa situação.

O grupo de pesquisa da Universidade Internacional de Valência EG-VIU respondeu ao convite para comentar o parecer consultivo emitido pela Corte IDH em resposta à solicitação das Repúblicas do Chile e da Colômbia. Uma posição compartilhada com outras instituições internacionais.

Solicita-se que a CIDH estabeleça padrões de direitos humanos para a adoção de leis e políticas para a prevenção, mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Também solicita a inclusão das obrigações internacionais dos Estados contidas no Acordo de Paris sobre mudança climática, com um enfoque de direitos humanos e no âmbito interamericano.

> Esse artigo foi publicado originalmente em espanhol. 

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