Militante da adoção de "remédios" sem comprovação científica, ele já defendeu a cura da doença com procedimento nutricional e desintoxicante
Edzard Ernst
professor emérito da Escola de Medicina da Península, na Universidade de Exeter, InglaterraO rei Charles está com câncer. Ele havia ido ao hospital para uma cirurgia de aumento de próstata. Inicialmente, a notícia foi positiva, sendo confirmado que não se tratava de câncer de próstata.
Durante as investigações, porém, os médicos descobriram um câncer que aparentemente não tem relação com a próstata.
Desde o anúncio da doença, muitos jornalistas e outras pessoas escreveram-me perguntando o que penso sobre isso e que tratamento Charles provavelmente receberá. Resolvi então escrever um pequeno post sobre o assunto.
Charles, afinal, deixará de ser um inimigo do Iluminismo? |
Como médico e como ser humano, lamento muito sempre que ouço dizer que alguém ficou doente, especialmente se a condição for grave e potencialmente fatal. Que isso inclui Charles, nem é preciso dizer.
Da mesma forma, é evidente que desejo que tudo lhe corra bem, que o tratamento que alegadamente já iniciou não seja demasiado árduo, que se mantenha de bom humor, que tenha o apoio empático de toda a sua família e que recupere rápida e totalmente
Charles terá, tenho certeza, o melhor tratamento que alguém poderia desejar.
Ele usará a chamada medicina alternativa, por exemplo, a terapia Gerson [procedimento nutricional e desintoxicante], que ele certa vez promoveu como cura do câncer? Claro que não! Ele receberá os cuidados mais eficazes e baseados em evidências disponíveis atualmente.
Se recorrer a algum tipo de tratamento alternativo, certamente ele o fará com sabedoria, com uma medida de apoio, não como tratamento de cura.
No meu livro sobre este assunto, analiso todas as evidências relevantes e concluo que, embora a medicina alternativa não seja uma cura para o câncer, ele pode ter um lugar nos cuidados de suporte ao câncer.
Dependendo dos sintomas que se desenvolvem durante e após os tratamentos convencionais, certos procedimentos podem, de acordo com evidências bastante sólidas, ser úteis para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida do paciente
Passar por uma batalha contra o câncer costuma ser uma experiência muito humilhante.
Tenho esperança, portanto, que, à medida que ele vai se recuperar da sua provação, Charles verá que a medicina moderna — uma vez ele a descreveu como desequilibrada como a torre inclinada de Pisa — não é apenas eficaz, empática e atenciosa, mas também não tão desequilibrado e pouco holístico como ele frequentemente proclamava que era.
A experiência poderá reformar o nosso rei e — quem sabe? — ele poderá, afinal, torna-se um amigo do Iluminismo, deixando de ser um autoproclamado inimigo.
> Este texto foi traduzido para o português e aqui publicado com autorização de Edzard Ernst.
Comentários
Postar um comentário