Pular para o conteúdo principal

Com o coração batendo, o 'morto aparente' ainda está vivo ou não? Há controversas

Ainda não há consenso na comunidade médica para a definição sobre quando a vida acaba e a morte pode ser decretada 


Jean Luiz N. Abreu 
professor associado do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia

Comunica
portal de notícias da Universidade de Uberlândia, Minas Gerais

BBC publicou em agosto de 2002 um artigo sobre pessoas que tinham sua morte decretada legalmente, mas que ainda conservavam o coração batendo e outros órgãos do corpo funcionando. 

Esses casos resultaram em uma série de questionamentos por parte de médicos sobre os métodos da medicina para definir o fim da vida e decretar a morte. 

O fenômeno que chama a atenção de cientistas na atualidade tem uma história que remonta aos séculos XVIII e XIX. Trata-se do fenômeno denominado de “morte aparente”, estágio onde o indivíduo ainda conserva sinais de vida, mas que era considerado morto.

No passado, há vários registros de casos de pessoas que eram enterradas com vida, o que serviu para alimentar a literatura sobre os mortos-vivos que se levantavam do caixão após serem sepultados. 

Em vista disso, os médicos no século XIX elaboraram diversas teorias em que procuravam determinar quais seriam os sinais inequívocos da morte, e propor medidas que procuravam afastar o temor de ser enterrado em vida.

Foram decretadas leis que procuravam regulamentar o período mínimo para os sepultamentos, bem como em alguns países, como na Alemanha, foram construídas casas mortuárias para conservar e observar os cadáveres, até que não existissem dúvidas sobre o fim da vida.


Sinais vitais mostram
que o morto ainda
não morreu

Com o desenvolvimento da anatomia patológica, entre fins do século XVIII e início do XIX, a morte passou a ser vista como parte de um processo múltiplo e não como um evento único. 

A partir do exame post-mortem, os médicos observavam que alguns órgãos ainda podiam continuar com sinais vitais, enquanto outros não. Assim, aspectos que antes eram vistos como definitivos para declarar o óbito, como a putrefação, passaram a ser questionados. 

Ainda que, nesse período, a medicina ainda estivesse longe de definir um critério único capaz de determinar o fim da vida, foi a partir de várias experiências que os médicos passaram a desenvolver técnicas que permitiam reanimar os pacientes ou vítimas de acidentes de asfixia, por afogamento ou intoxicação por gases.

Tais aspectos indicam uma preocupação com a preservação da vida humana por parte de médicos. Diversas sociedades filantrópicas, com a participação de leigos, voltadas para salvar vítimas de naufrágios foram criadas em países como Inglaterra e Portugal.

No Brasil, Theodoro Langgaard (1813–1883), médico que veio para país em 1842, dedicou um de seus verbetes do Novo formulário médico e farmacêutico à asfixia, divulgando conselhos da Royal humane society (Real Sociedade Humana) a respeito dos socorros que deviam ser prestados aos afogados, os quais envolviam uma série de procedimentos, alguns que hoje seriam questionados. 

Além da respiração boca a boca, recorria-se a outras formas de reanimação, como o uso de rapé e aplicação de substâncias irritantes ao nariz, toalhas quentes, fricções com flanela na caixa toráxica, soprar com a boca ar nos pulmões, borrifar água e aguardente ou éter na região precordial. 

Além desses métodos que podem ser descritos como “tradicionais”, outros foram sendo incorporados, como as experiências com a eletricidade, para reanimar os corpos de pessoas em risco de morte.

No decorrer do século XX, o desenvolvimento de técnicas de reanimação e de instrumentos, tais como desfibrilador, ventiladores mecânicos e sondas de alimentação, permitiram que pacientes em determinados estágios mórbidos, embora com a perda de determinadas funções do corpo, continuassem a ser mantidos vivos. 

Contudo, a definição da morte ainda é um enigma a ser respondido. Apesar dos avanços da ciência, inúmeros são os casos registrados de pacientes considerados mortos que voltam à vida, Lázaros do século XXI.

Este texto é resultado do projeto “Os debates sobre a morte e os usos do corpo post mortem no Brasil do século XIX”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a quem o autor agradece o financiamento.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Cápsulas de papelão com sementes podem auxiliar na restauração ecológica do Cerrado

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Vídeo de pastor mostra criança em situação de constrangimento

Imagens pegam menina em close se contorcendo no chão Um vídeo de 3 minutos [ver trecho abaixo] do ministério do pastor Joel Engel, do Rio Grande do Sul, expõe uma criança em situação de constrangimento ao mostrá-la se contorcendo no chão ao lado do seu pai, em uma sessão de descarrego. Pelo artigo 232 do Eca (Estatuto da Criança e do Adolescente), comete crime quem submete menor de idade sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexames ou constrangimento. É o caso deste vídeo. Na gravação, a mãe diz o nome da filha. Ao final, Engel afirma: “O que Deus está fazendo aqui é impressionante”. Em outra oportunidade, Angel já tinha passado por cima do Eca ao pegar como oferta o único par de tênis de um menino, deixando-o descalço e com o rosto de choro. . Se o Conselho Tutelar e o Ministério Público tivessem enquadrado na época o pastor, ele certamente agora pouparia a menina do vexame. Imagens vexatórias Pastor Joel Engel pega como oferta único par de tênis de

Textos bíblicos têm contradições, mas as teorias científicas também

por Demetrius dos Santos Silva , biblista, a propósito de Quem Deus criou primeiro, o homem ou os animais? A Bíblia se contradiz Por diversas vezes vejo pessoas afirmarem ideias sobre a Bíblia baseadas em seus preconceitos religiosos ou seculares. Todo preconceito é baseado em uma postura fanática onde o relativo é assumido como absoluto. Nesse sentido, qualquer ideia ou teoria deve-se enquadrar dentro da visão obtusa do fanático. É como uma pessoa que corta a paisagem para caber dentro de sua moldura. O quadro é assumido como se fosse a paisagem verdadeira e tudo o que está fora de seu quadro é desconsiderado. Quando o assunto é a Bíblia, muitas pessoas abandonam os critérios literários e assumem uma postura pseudocientífica que revela seus profundos preconceitos sobre as religiões e seus livros sagrados. A palavra Bíblia vem da língua grega “Biblos” e significa: livros. A Bíblia é uma biblioteca. Nela encontramos diversos gêneros literários: poesia, prosa, leis, oráculos pro

Atea pede a colégio de Esteio que impeça bullying a aluno ateu

Aluno disse que escola tornou obrigatório o ensino religioso A Atea (Associação de Ateus e Agnósticos do Brasil) enviou ofício ao Colégio Estadual Augusto Meyer, de Esteio (RS), para que impeça que um de seus alunos de 1º grau continue sendo alvo de bullying por não acreditar em Deus. O jovem relatou à associação que a diretora e vice-diretora da escola impõem o ensino religioso no currículo como se fosse obrigatório, sendo que, pela lei, trata-se de uma disciplina facultativa. Ele contou que a professora de religião e a classe riram pelo fato dele ser ateu. O site do colégio informa que a diretora é Nara Machado e que também é professora de sociologia no Colégio Estadual Guianuba. A vice-diretora é Maria Cristina Centeno Fernandes. Trata-se da professora mais antiga do colégio. No ofício assinado com a data de hoje (18) pelo seu presidente, Daniel Sottomaior, a Atea avaliou que se trata de um “incidente grave” cuja origem é a obrigatoriedade do ensino religioso. Afirmou

Sete países têm lei de pena de morte a ateus, revela relatório

Pena capital para céticos vigora  no Afeganistão, Irã, Maldivas, Sudão, Mauritânia, Paquistão e Arábia Saudita Os ateus e outros céticos religiosos sofrem perseguição ou discriminação em muitas partes do mundo e em pelo menos sete países podem ser executados se sua falta da crença se tornar conhecida. A informação é de relatório da IHEU (União Internacional Humanista e Ética) divulgado hoje (10). O relatório mostra que a situação dos “infiéis” é mais grave em países islâmicos, onde religião e Estado se confundem. As consequências para o cético às vezes podem ser brutais. Ele também aponta que em alguns países europeus e nos Estados Unidos as leis favorecem os religiosos e suas organizações e tratam os ateus e humanistas como cidadãos de segunda classe. O “A Liberdade de Pensamento 2012" afirma que "há leis que negam aos ateus o direito de existir, restringindo a sua liberdade de não ter nenhuma crença e de expressão. Também revogam sua cidadania e limitam seu

Partícula de Higgs é vitória da ciência sobre a religião

Representação das experiências do Centro de Pesquisa Nuclear por Lawrence M. Krauss  Tem havido muita comoção desde o dia 4 de julho, quando houve o anúncio de que o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear tinha descoberto evidências de uma nova partícula elementar, a Higgs, que os cientistas têm procurado há quase 50 anos e está no cerne da nossa melhor teoria atual sobre a formação do cosmo. Parte da comoção parece vir do fato de que a descoberta tem sido frequentemente chamada em círculos informais de “partícula de Deus”. Esse termo apareceu pela primeira vez no título infeliz de um livro escrito pelo físico Leon Lederman, há duas décadas. Mas, pelo meu conhecimento, nunca foi usado por qualquer cientista antes ou depois da descoberta da partícula, incluindo o próprio Lederman. Apesar disso, o termo "colou” no imaginário da imprensa. O que torna o termo “partícula de Deus” lamentável é que nada poderia estar mais longe da verdade. Porque a existência da partícula de Hig

Pastor que exigia 'boa conduta' de fiéis é condenado por estupro

Pastor abusou de crianças na faixa de 4 a 11 anos O pastor Manoel Teoplício de Souza Ribeiro (foto), 52, da Assembleia de Deus, exigia das fiéis “boa conduta”, como não usar calças compridas e maquiagem – coisas do demônio, segundo dizia. Mesmo sendo tão conservador, atraia muitos fiéis para a sua igreja em Samambaia, cidade próxima de Brasília. Ribeiro foi condenado a 50 anos e 10 meses de prisão por ter estuprado crianças na faixa de 4 a 11 anos, filhas de fiéis. A sentença, agora divulgada, tomada há um mês pela Justiça do Distrito Federal. O pastor já se encontrava preso preventivamente desde junho de 2011. Ele alegou à polícia ter conhecimentos de medicina e que, por isso, levava as filhas de fiéis para sua casa de modo a tirar delas “maus fluidos” por intermédio de massagens. Só que  massageava principalmente a genitália das meninas, de acordo com as denúncias. Ele abusava das crianças desde 2005 e as ameaçava para que não contassem nada a ninguém. Uma fiel