Deputada do PSOL, que afirma ser uma das vítimas, acusa a universidade de Portugal de não ter “disposição institucional” para esclarecer o caso do professor Boaventura de Sousa Santos
Mariama Correia
jornalista
Agência Pública
jornalismo investigativo sem fins lucrativos
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Quase um ano depois dos primeiros relatos de assédio sexual e moral contra o professor português Boaventura de Sousa Santos virem à tona, o Coletivo Internacional de Mulheres, que reúne vítimas, divulgou carta aberta cobrando acesso ao relatório de investigação das denúncias.
O documento está sendo produzido por uma comissão independente do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, onde o sociólogo ensinava. Ele foi afastado das funções quando as acusações vieram a público.
“Não recebemos até ao momento qualquer resposta em relação à avaliação das nossas denúncias, nem qualquer compromisso de virmos a receber o relatório elaborado pela comissão independente”, diz um trecho da carta, divulgada nesta segunda-feira (4).
“Não recebemos até ao momento qualquer resposta em relação à avaliação das nossas denúncias, nem qualquer compromisso de virmos a receber o relatório elaborado pela comissão independente”, diz um trecho da carta, divulgada nesta segunda-feira (4).
De acordo com denúncias, o professor Boaventura mirava principalmente as alunas brasileiras |
O coletivo é formado por pesquisadoras e ex-alunas, brasileiras e portuguesas, que teriam sofrido abusos enquanto trabalhavam com o professor e sociólogo. A identidade da maioria dessas mulheres é mantida em sigilo.
A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL-MG) faz parte do grupo. Em abril de 2023, ela denunciou, com exclusividade à Agência Pública, que sofreu assédio sexual de Boaventura enquanto era sua orientada de doutorado na Universidade de Coimbra.
“A carta manifesta nossa indignação coletiva e sentimento de desamparo e impunidade. Não existe reparação real sem uma disposição institucional que confirme a mudança de condutas e a repetição de situações lamentáveis”, disse a deputada à Pública.
De acordo com a carta, o prazo final de divulgação do relatório sobre as denúncias contra o professor venceu no dia 1º de março. A Universidade de Coimbra, entretanto, informou que o relatório será apresentado no próximo dia 13.
De acordo com a carta, o prazo final de divulgação do relatório sobre as denúncias contra o professor venceu no dia 1º de março. A Universidade de Coimbra, entretanto, informou que o relatório será apresentado no próximo dia 13.
O Coletivo pede acesso antecipado ao relatório, uma vez que, em abril de 2023, endereçou uma carta à Universidade de Coimbra acusando Boaventura de assédio sexual, moral e extrativismo intelectual. Em 30 de setembro, o Coletivo de Mulheres enviou um amplo dossiê para o CES “com detalhes narrativos e elementos probatórios”.
“Enquanto denunciantes, teremos oportunidade de conhecer a validação ou não validação das nossas narrativas sobre a violência que sofremos semanas depois do relatório estar concluído e ao mesmo tempo que a comunicação social e o público em geral”, dizem na carta divulgada agora.
O Coletivo critica também o formato de divulgação anunciado pela universidade, que teria recusado o pedido de apresentação online.
“Enquanto denunciantes, teremos oportunidade de conhecer a validação ou não validação das nossas narrativas sobre a violência que sofremos semanas depois do relatório estar concluído e ao mesmo tempo que a comunicação social e o público em geral”, dizem na carta divulgada agora.
O Coletivo critica também o formato de divulgação anunciado pela universidade, que teria recusado o pedido de apresentação online.
“O CES recusou o pedido do coletivo para divulgar online a apresentação do relatório, sabendo que a maioria das vítimas reside fora de Portugal e não tem condições materiais e emocionais para se deslocar às instalações da instituição”.
Conforme o CES, a apresentação do relatório será feita em uma de suas salas com capacidade para 80 pessoas.
“Apelamos a que respeitem a nossa dignidade, não nos desumanizem, não voltem a silenciar-nos ou a fingir que não estamos aqui”, pede o coletivo.
“Apelamos a que respeitem a nossa dignidade, não nos desumanizem, não voltem a silenciar-nos ou a fingir que não estamos aqui”, pede o coletivo.
A Pública entrou em contato com a Universidade de Coimbra, mas não recebeu resposta até esta publicação.
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