Este artigo foi escrito em resposta a uma pergunta formulada por Helena, de 13 anos
Guillermo López Lluch
Dentro deste catálogo, está o câncer ou algumas das chamadas doenças autoimunes — quando as células do sistema imunitário atacam erroneamente as células do nosso próprio corpo — como a esclerose múltipla, o lúpus ou a diabetes tipo 1.
No entanto, nos últimos anos, os cientistas aprenderam muito sobre as origens desses temíveis inimigos da nossa saúde e como eles estão relacionados com certos mecanismos biológicos. Há uma luz no fim do túnel!
Hoje, os tratamentos que permitem a cura de muitos pacientes desse grupo de doenças que conhecemos como câncer são:
— Radioterapia direcionada. Consiste em lançar poderosos feixes de energia – geralmente raios X – sobre o tumor, tentando não causar danos às células saudáveis que estão ao seu redor.
— Quimioterapia. O paciente recebe um coquetel de medicamentos que matam as células malignas. As combinações de medicamentos e seu uso para cada tipo de câncer foram bastante melhorados.
— Imunoterapia. São as técnicas que o sistema imunitário – o sistema defensivo do nosso corpo – utiliza para atacar as células cancerígenas.
De qualquer forma, a melhor terapia é a prevenção. Um avanço neste campo foi a criação de vacinas que colocam o papilomavírus, responsável por cânceres como o do colo do útero e outras mucosas.
Também estão sendo desenvolvidas vacinas que permitem reconhecer proteínas muito específicas de células malignas e, como se fossem alvos, direcionar o ataque do sistema imunológico contra elas. Por exemplo, estão sendo feitas pesquisas sobre como sinalizar o Her-2, uma proteína altamente abundante nas células do câncer de mama, para que o sistema imunológico destrua as células que a contêm.
Mas a terapia mais promissora consiste em “recrutar” linfócitos T – um tipo de glóbulo branco – como soldados de elite na guerra contra as células tumorais.
Essas doenças aparecem quando o sistema imunológico gera células defensivas que, em vez de nos proteger de vírus, bactérias e outros patógenos externos, acabam identificando nossas próprias células como perigosas.
Os cientistas estão desenvolvendo terapias que tentam restaurar a ordem ou pelo menos mitigar os danos. A utilização de anticorpos – as proteínas que reconhecem e neutralizam “intrusos” – ou de moléculas que regulam o funcionamento do sistema imunitário está dando alguns resultados, ainda poucos, mas promissores.
Conhecer os meandros do sistema imunológico pode nos permitir encontrar terapias para tratar e, quem sabe, eliminar definitivamente essas doenças. Embora descobrir o calcanhar de Aquiles exija mais pesquisas.
Guillermo López Lluch
professor na área de biologia celular e pesquisador do envelhecimento e sistemas imunológico e antioxidante, Universidade Pablo de Olavide, Espanha
The Conversationl
plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas
Para aqueles que sofrem de uma doença longa, a sua será sempre a mais difícil de curar. Embora na realidade existam algumas doenças que são objetivamente incuráveis: só podemos tratar os seus sintomas para deixarem de causar sofrimento e progridam o mais lentamente possível.
Dentro deste catálogo, está o câncer ou algumas das chamadas doenças autoimunes — quando as células do sistema imunitário atacam erroneamente as células do nosso próprio corpo — como a esclerose múltipla, o lúpus ou a diabetes tipo 1.
No entanto, nos últimos anos, os cientistas aprenderam muito sobre as origens desses temíveis inimigos da nossa saúde e como eles estão relacionados com certos mecanismos biológicos. Há uma luz no fim do túnel!
Câncer: uma doença cada vez mais encurralada
Primeira boa notícia: durante as últimas décadas, muitos tipos de câncer deixaram de ser letais. Na verdade, quase todos eles poderiam ser curados se fossem detectados suficientemente cedo para podermos eliminar as células cancerígenas antes que se espalhassem e invadissem muitos órgãos.Hoje, os tratamentos que permitem a cura de muitos pacientes desse grupo de doenças que conhecemos como câncer são:
— Radioterapia direcionada. Consiste em lançar poderosos feixes de energia – geralmente raios X – sobre o tumor, tentando não causar danos às células saudáveis que estão ao seu redor.
— Quimioterapia. O paciente recebe um coquetel de medicamentos que matam as células malignas. As combinações de medicamentos e seu uso para cada tipo de câncer foram bastante melhorados.
— Imunoterapia. São as técnicas que o sistema imunitário – o sistema defensivo do nosso corpo – utiliza para atacar as células cancerígenas.
Um grupo de linfócitos “cerca” uma célula cancerosa |
De qualquer forma, a melhor terapia é a prevenção. Um avanço neste campo foi a criação de vacinas que colocam o papilomavírus, responsável por cânceres como o do colo do útero e outras mucosas.
Também estão sendo desenvolvidas vacinas que permitem reconhecer proteínas muito específicas de células malignas e, como se fossem alvos, direcionar o ataque do sistema imunológico contra elas. Por exemplo, estão sendo feitas pesquisas sobre como sinalizar o Her-2, uma proteína altamente abundante nas células do câncer de mama, para que o sistema imunológico destrua as células que a contêm.
Mas a terapia mais promissora consiste em “recrutar” linfócitos T – um tipo de glóbulo branco – como soldados de elite na guerra contra as células tumorais.
Nesse caso, os pesquisadores extraem os linfócitos, selecionam os mais ativos, cultivam-nos em laboratório e reintroduzem-nos no paciente. Atualmente, eles estão testando essa técnica com um câncer chamado TIL (linfócitos infiltrantes de tumor).
Uma tática semelhante é modificar geneticamente esses linfócitos para detectarem especificamente as células cancerígenas e as ataquem de maneira devastadora.
Uma tática semelhante é modificar geneticamente esses linfócitos para detectarem especificamente as células cancerígenas e as ataquem de maneira devastadora.
Esse é o “superpoder” das células CAR-T. Os cientistas já criaram cinco gerações de CAR-T, cada vez mais eficazes, que estão a dar resultados muito positivos contra leucemias e linfomas. Possivelmente em breve eles poderão ser usados com sucesso contra outros tipos de câncer.
Quando nosso sistema defensivo nos ataca
Outro grupo de doenças muito difíceis de curar são as doenças autoimunes, que já mencionamos anteriormente. Principalmente aquelas cuja origem ainda é um mistério, como o lúpus eritematoso sistêmico ou a esclerose múltipla.Essas doenças aparecem quando o sistema imunológico gera células defensivas que, em vez de nos proteger de vírus, bactérias e outros patógenos externos, acabam identificando nossas próprias células como perigosas.
Os cientistas estão desenvolvendo terapias que tentam restaurar a ordem ou pelo menos mitigar os danos. A utilização de anticorpos – as proteínas que reconhecem e neutralizam “intrusos” – ou de moléculas que regulam o funcionamento do sistema imunitário está dando alguns resultados, ainda poucos, mas promissores.
Conhecer os meandros do sistema imunológico pode nos permitir encontrar terapias para tratar e, quem sabe, eliminar definitivamente essas doenças. Embora descobrir o calcanhar de Aquiles exija mais pesquisas.
Doenças do sistema nervoso central: o maior desafio
Na minha opinião, as doenças mais difíceis de curar são aquelas que afetam o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal).Vão desde doenças autoimunes, como a esclerose múltipla, até outras que podem ou não ter um componente autoimune, como a famosa esclerose lateral amiotrófica (ELA), passando por desequilíbrios que podem perturbar a personalidade e doenças neurodegenerativas. Estas últimas são as piores: quando descobrimos os seus sintomas, o estrago já está feito.
As doenças neurodegenerativas têm origem na perda de neurônios que desempenham determinadas funções. Estes são os mais importantes:
— Doenças mitocondriais. Elas aparecem quando as mitocôndrias – as “usinas de energia” das nossas células – estão defeituosas. Entre elas está a síndrome MERRF ou MELAS. Elas produzem ataxia, ou seja, falta de coordenação dos movimentos, entre outros problemas.
— Doença de Huntington. O paciente perde o controle dos movimentos, fica desajeitado e tem problemas de equilíbrio. E quando a doença progride, ele não consegue mais andar, falar ou engolir. Tanto esta doença como as doenças mitocondriais são genéticas e os seus efeitos são irreversíveis, uma vez que o problema está no genoma das células.
— Mal de Parkinson. Isso se deve à perda de neurônios em uma área muito específica do sistema nervoso: a substância negra, responsável por controlar nossos movimentos. Embora existam medicamentos que ajudam a recuperar esse controle e o movimento possa ser regulado com estímulos elétricos, esses remédios apenas ajudam a doença a seguir seu curso de forma mais ou menos rápida.
— Demência senil e Alzheimer. O sistema nervoso é um sistema muito complicado de conexões entre neurônios, que formam circuitos que não sabemos como funcionam. Por isso, não existe medicamento válido contra a perda natural de neurônios ao longo da vida ou devido a doenças como o Alzheimer, que apaga a memória de quem a sofre.
Hoje, as doenças neurodegenerativas não têm cura, mas conhecendo as causas e evitando os perigos podemos garantir que a deterioração dos neurônios ocorre muito tarde e progride lentamente.
Gradualmente estamos mais perto de compreender como se desencadeiam esse tipo de doenças e – confiemos na ciência – talvez de encontrar a arma definitiva para as derrotar.
As doenças neurodegenerativas têm origem na perda de neurônios que desempenham determinadas funções. Estes são os mais importantes:
— Doenças mitocondriais. Elas aparecem quando as mitocôndrias – as “usinas de energia” das nossas células – estão defeituosas. Entre elas está a síndrome MERRF ou MELAS. Elas produzem ataxia, ou seja, falta de coordenação dos movimentos, entre outros problemas.
— Doença de Huntington. O paciente perde o controle dos movimentos, fica desajeitado e tem problemas de equilíbrio. E quando a doença progride, ele não consegue mais andar, falar ou engolir. Tanto esta doença como as doenças mitocondriais são genéticas e os seus efeitos são irreversíveis, uma vez que o problema está no genoma das células.
— Mal de Parkinson. Isso se deve à perda de neurônios em uma área muito específica do sistema nervoso: a substância negra, responsável por controlar nossos movimentos. Embora existam medicamentos que ajudam a recuperar esse controle e o movimento possa ser regulado com estímulos elétricos, esses remédios apenas ajudam a doença a seguir seu curso de forma mais ou menos rápida.
— Demência senil e Alzheimer. O sistema nervoso é um sistema muito complicado de conexões entre neurônios, que formam circuitos que não sabemos como funcionam. Por isso, não existe medicamento válido contra a perda natural de neurônios ao longo da vida ou devido a doenças como o Alzheimer, que apaga a memória de quem a sofre.
Hoje, as doenças neurodegenerativas não têm cura, mas conhecendo as causas e evitando os perigos podemos garantir que a deterioração dos neurônios ocorre muito tarde e progride lentamente.
Gradualmente estamos mais perto de compreender como se desencadeiam esse tipo de doenças e – confiemos na ciência – talvez de encontrar a arma definitiva para as derrotar.
> Esse artigo foi originalmente escrito em espanhol.
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