Animal tinha carapaça de até 2 metros e dentes de 27 cm e era onívoro; viveu nas águas doces da região pelo menos há 40 mil anos
Pedro Morani
jornalista
Jornal da USP
Um vestígio fóssil da agora denominada tartaruga gigante amazônica, a Peltocephalus maturin, foi descoberto por volta de 2015 em um barranco de garimpo hoje desativado no rio Madeira, em Rondônia (RO). Com a participação de pesquisadores de diferentes países, incluindo universidades brasileiras e a USP, iniciou-se o processo de identificação do animal, com tamanho estimado entre 1,8 e 2m.
Com a mandíbula da tartaruga encontrada, a primeira hipótese foi de que se tratasse da Stupendemys, a maior tartaruga de água doce que já existiu e que viveu durante o Mioceno, há cerca de 25 milhões de anos.
Na região amazônica é comum existirem sedimentos e rochas dessa época geológica, por isso essa foi a primeira suposição, mas para a comprovação científica os pesquisadores buscaram datar o material.
“Mandamos algumas amostras para a Universidade da Georgia, que tem pesquisadores que trabalham com datação por carbono", informa Gabriel Ferreira, pesquisador da Universität Tübingen, Alemanha, que liderou o estudo.
“Essa parte foi realizada pela Miriam Pacheco e a Marcia Rizzuto, da UFSCar e da USP, respectivamente. Elas fizeram análises geoquímicas para ver o quanto de modificações havia no fóssil”.
Civilizações do período
Com 27 cm de comprimento, o dentário foi analisado de maneira não convencional. Por ser a parte mais dura e menos porosa do esqueleto, o esmalte dentário é sempre o escolhido para ser analisado, mas na falta dele tiveram que analisar os ossos — normalmente o último recurso a ser utilizado por conta da sua porosidade.
Com a incerteza dos dados, optou-se por estabelecer a idade mínima da espécie em nove mil anos — com a garantia de que não poderia ser mais nova que isso — e a máxima em 40 mil por conta da análise de plantas encontradas na parte inferior do fóssil que tinham essa idade. Pela lógica, tudo que estava acima era mais recente.
Estabeleceu-se uma relação morfológica com a tartaruga cabeçuda do Amazonas, a Peltocephalus dumerilianus. O dentário dessa espécie possui características que apareceram também no fóssil, como a mandíbula ser mais alta e fina e ser terminada em um gancho, além de uma característica única deste gênero, que é uma depressão na parte lingual da mandíbula.
“É por isso que a gente a chamou de Peltocephalus também. Colocamos no mesmo gênero por causa dessas semelhanças”, explica Gabriel Ferreira.
A gigante amazônica, assim como a sua parente viva mais próxima, era onívora, tendo uma dieta composta por vegetais e animais.
“A comunidade científica não entrou em um consenso, mas é uma hipótese bem aceita de que se não houvesse a pressão de caça humana sobre essas espécies gigantes, elas ainda existiriam”, aponta Max Langer, professor da USP em Ribeirão Preto que orientou a pesquisa.
Pedro Morani
jornalista
Jornal da USP
Um vestígio fóssil da agora denominada tartaruga gigante amazônica, a Peltocephalus maturin, foi descoberto por volta de 2015 em um barranco de garimpo hoje desativado no rio Madeira, em Rondônia (RO). Com a participação de pesquisadores de diferentes países, incluindo universidades brasileiras e a USP, iniciou-se o processo de identificação do animal, com tamanho estimado entre 1,8 e 2m.
Com a mandíbula da tartaruga encontrada, a primeira hipótese foi de que se tratasse da Stupendemys, a maior tartaruga de água doce que já existiu e que viveu durante o Mioceno, há cerca de 25 milhões de anos.
Na região amazônica é comum existirem sedimentos e rochas dessa época geológica, por isso essa foi a primeira suposição, mas para a comprovação científica os pesquisadores buscaram datar o material.
“Mandamos algumas amostras para a Universidade da Georgia, que tem pesquisadores que trabalham com datação por carbono", informa Gabriel Ferreira, pesquisador da Universität Tübingen, Alemanha, que liderou o estudo.
"Quando retornaram os resultados, a gente viu que era algo muito mais recente do que a Stupendemys, então não poderia ser ela. Nesse meio tempo também foi publicado um material sobre a mandíbula de Stupendemys, e vimos que elas são bem diferentes”
Alimento para o ser humano
O resultado da datação apontou entre 14 e nove mil anos. A proximidade geológica abriu uma possibilidade da coexistência dessa espécie com humanos e também estabeleceu que as comparações deveriam ser feitas com espécies viventes hoje. Além disso, foi decidido estabelecer um arcabouço geoquímico, para ver se a datação era realmente confiável.
“Essa parte foi realizada pela Miriam Pacheco e a Marcia Rizzuto, da UFSCar e da USP, respectivamente. Elas fizeram análises geoquímicas para ver o quanto de modificações havia no fóssil”.
Civilizações do período
podem ter sido responsáveis
pela extinção da espécie
FOTO: DIVULGAÇÃO
Com 27 cm de comprimento, o dentário foi analisado de maneira não convencional. Por ser a parte mais dura e menos porosa do esqueleto, o esmalte dentário é sempre o escolhido para ser analisado, mas na falta dele tiveram que analisar os ossos — normalmente o último recurso a ser utilizado por conta da sua porosidade.
Com a incerteza dos dados, optou-se por estabelecer a idade mínima da espécie em nove mil anos — com a garantia de que não poderia ser mais nova que isso — e a máxima em 40 mil por conta da análise de plantas encontradas na parte inferior do fóssil que tinham essa idade. Pela lógica, tudo que estava acima era mais recente.
Estabeleceu-se uma relação morfológica com a tartaruga cabeçuda do Amazonas, a Peltocephalus dumerilianus. O dentário dessa espécie possui características que apareceram também no fóssil, como a mandíbula ser mais alta e fina e ser terminada em um gancho, além de uma característica única deste gênero, que é uma depressão na parte lingual da mandíbula.
“É por isso que a gente a chamou de Peltocephalus também. Colocamos no mesmo gênero por causa dessas semelhanças”, explica Gabriel Ferreira.
A gigante amazônica, assim como a sua parente viva mais próxima, era onívora, tendo uma dieta composta por vegetais e animais.
“A tartaruga cabeçuda do Amazonas, por exemplo, come basicamente frutos que caem na água e também tem uma predileção algumas espécies de caramujos que ocorrem na região. Esse é o traço mais onívoro dela, mas há registros de conteúdo estomacal que mostram vários outros vestígios, como crustáceos, os caramujos e também bastante matéria vegetal, principalmente frutos e sementes. Então, a gente acredita que seria alguma coisa semelhante”, diz o paleontólogo.
O desconhecimento da fauna da região daquele período prejudica estabelecer com exatidão a dieta da Peltocephalus maturin. A comparação é importante, mas pelo seu tamanho é pouco provável que ela se alimentasse de pequenos caramujos como sua parente, e mesmo com o seu tamanho, não deveria ser uma grande predadora tendo em vista sua lenta mobilidade.
“As populações indígenas da área utilizam tartarugas como parte da sua alimentação. E os registros mais antigos de ocupação humana na Amazônia também são acompanhados de ossos de tartarugas. Se a gente puder confirmar a idade e a convivência, acreditar na coexistência temporal de humanos e essa tartaruga, a chance é relativamente alta de que elas tenham sido predadas por seres humanos”, aponta Gabriel como hipótese para o desaparecimento da Peltocephalus maturin.
O desconhecimento da fauna da região daquele período prejudica estabelecer com exatidão a dieta da Peltocephalus maturin. A comparação é importante, mas pelo seu tamanho é pouco provável que ela se alimentasse de pequenos caramujos como sua parente, e mesmo com o seu tamanho, não deveria ser uma grande predadora tendo em vista sua lenta mobilidade.
“As populações indígenas da área utilizam tartarugas como parte da sua alimentação. E os registros mais antigos de ocupação humana na Amazônia também são acompanhados de ossos de tartarugas. Se a gente puder confirmar a idade e a convivência, acreditar na coexistência temporal de humanos e essa tartaruga, a chance é relativamente alta de que elas tenham sido predadas por seres humanos”, aponta Gabriel como hipótese para o desaparecimento da Peltocephalus maturin.
“A comunidade científica não entrou em um consenso, mas é uma hipótese bem aceita de que se não houvesse a pressão de caça humana sobre essas espécies gigantes, elas ainda existiriam”, aponta Max Langer, professor da USP em Ribeirão Preto que orientou a pesquisa.
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