Presidente tenta compensar queda de popularidade adotando uma retórica para evangélicos; vai dar resultado?
Paulo Lopes
jornalista, trabalhou na Folha de S.Paulo, Agência Folha, Diário Popular, Editora Abril e em outras publicações
Lula critica com frequência o uso da religião pela política, numa referência ao bolsonarismo, mas o próprio Lula passou a citar cada vez mais Deus em seus discursos, uma retórica para obter simpatia dos evangélicos.
Ao participar da inauguração da Estação Elevatória de Água Bruta de Ipojuca, em Arcoverde, em Pernambuco, no dia 5 de abril, por exemplo, Lula em discurso de 25 minutos referiu-se a “Deus” 11 vezes. Também falou “milagre” por 16 vezes, “crença” duas e “homem lá de cima” uma.
No dia 18 de março, em uma reunião ministerial, ele falou que os brasileiros querem um “país no qual a religião não seja instrumentalizada como instrumento político, de um partido político ou de um governo”.
Acrescentou: “Que a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la. A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa como está sendo nesse país. Então democracia é a gente tentar que esse país volte à normalidade.”
Lula já teve o apoio de uma aliança evangélica. Conseguirá de novo? FOTO: RICARDO STUCKERT |
Os políticos de esquerda — tomando como referência países europeus — são abertamente defensores da laicidade de Estado. Mas isso nunca se aplicou a Lula, a não ser, agora, em discursos pontuais para criticar o bolsonarismo, que se mostra firme mesmo com a inexigibilidade de Bolsonaro.
Para compensar uma queda de popularidade, Lula, que almeja ser reeleito, não terá dificuldade em misturar política e religião em seus discursos cada vez mais, daqui para frente, caindo em contradição. Se ele obterá resultados, é outra questão.
O governo Lula 2 (2007–2011) teve forte apoio dos evangélicos, fazendo com que líderes religiosos como Edir Macedo parassem de falar que o petista era um “demônio”. Houve retribuição do PT. Por exemplo: no governo da Dilma Rousseff, o bispo Marcelo Crivella, da Universal, foi o titular do Ministério da Pesca, onde ele atuou mais como líder religioso do que como ministro.
Não há nada de errado um governo ter o apoio declarado de evangélicos, católicos, espíritas ou ateus, seja lá o que for.
O que não se pode é neglicenciar a defesa do constitucional Estado laico, para impedir, entre outras mazelas, o fortalecimento da extrema-direita nacionalista e religiosa, como ocorreu no Brasil.
> Com informação da Folha de S.Paulo, discursos do Lula e de outras fontes.
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