O intelectual causou polêmicas ao fazer afirmações como “não existe forma educada de dizer às pessoas crentes que elas dedicaram as suas vidas a uma ilusão”
Aos 82 amos, morreu na sexta (19 de abril de 2024) em decorrência de uma doença pulmonar o filósofo e pensador do ateísmo Daniel C. Dennett. Ele estava internado no Maine Medical Center, em Maine, Estados Unidos.
Ao noticiar a morte de Dennett, o The New York Times afirmou que ele parecia às vezes denegrir a religião. Em uma de suas entrevistas àquele jornal, o filósofo disse: “Simplesmente não existe uma forma educada de dizer às pessoas que elas dedicaram as suas vidas a uma ilusão”.
Dennett se formou na Universidade de Harvard em 1963. Dois anos depois, obteve o doutorado em filosofia pela Universidade de Oxford. Sua dissertação foi sobre a pesquisa empírica como base de uma filosofia da mente, que, de certa forma, é o ponto de partida de todos os seus livros.
Na infância, ele viveu no Líbano, em Beirute, onde seu pai era agente secreto na embaixada dos Estados Unidos. Sua mãe dava aula de inglês na American Community School.
Ele nasceu em 28 de março de 1942, em Boston, filho de Daniel Clement Dennett Jr. e Ruth Marjorie (Leck) Dennett. Sua irmã, Charlotte Dennett, era advogada e jornalista.
Para o filósofo, não existe o livre arbítrio e o que rege a vida das pessoas é o acaso FOTO: REDE SOCIAL |
Dennett escreveu mais de 20 livros e dezenas de ensaios sobre variados temas e alguns deles foram bestsellers. Conseguiu atingir o público leigo com uma escrita elegante e objetiva. Ele teve escritos adaptados para o teatro e concerto.
Alguns dos seus livros causavam polêmica, e ele não fugia dela, reagindo, às vezes, com fúria.
Em 2013, por exemplo, ele publicou uma pesquisa que fez com Lind LaScola sobre os sacerdotes que eram ateus não declarados.
No livro “Caught in the Pulpit: Leaving Belief Behind”, Dennett e LaScola defendem a continuidade do trabalho desses sacerdotes porque estavam proporcionando conforto aos fiéis.
O filósofo era ferrenho defensor da teoria da evolução. Em seu livro de memória, I've Been Thinking, escreveu que Darwin teve a melhor ideia de todas porque liga vida, física e cosmologia.
Para Dennett, o livre arbítrio é uma fantasia, mas ainda assim necessária para as pessoas acreditarem que as regras governam a sociedade.
O filósofo escreveu que, na vida das pessoas, o que mais tem importância é o acaso, e não motivos, causas, paixões, raciocínio, caráter ou valores.
Até hoje, o entendimento de Dennett sobre o livre arbítrio causa polêmica. Seus críticos argumentam que, se são as decisões aleatórias que importam, as pessoas não podem ser responsabilizadas por suas ações.
Em seu livro “From Bacteria to Bach and Back: The Evolution of Minds”, de 2017, ele responde: “Se — porque o livre arbítrio é uma ilusão — ninguém é responsável pelo que faz, deveríamos abolir os cartões amarelos e vermelhos no futebol, a grande penalidade no hóquei no gelo e todos os outros sistemas de penalidades no desporto?”
O funcionamento do cérebro humano foi um de seus objetos de estudo. Para ele, conforme entrevista que deu ao NYT, “a mente nada mais é do que um cérebro operando como uma série de funções algorítmicas, semelhantes a um computador. Acreditar no contrário é “profundamente ingênuo e anticientífico”.
Dennett é da turma dos intelectuais do movimento Novo Ateísmo, que surgiu após o 11 de Setembro com a proposta de deter o avanço da religião na sociedade e na máquina administrativa do Estado. O movimento entrou em declínio após a morte de Christopher Hitchens, o autor do livro “Deus Não É Grande”, que era o mais contundente do grupo.
Em uma de suas últimas entrevistas, Dennett afirmou não haver hoje em dia a necessidade de um movimento como o Novo Ateísmo porque os crentes já estão apavorados com as mudanças da sociedade, entre as quais a secularização.
> Com informação do The New York Times e de outras fontes.
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