Pular para o conteúdo principal

O que atrai pesquisadores estrangeiros para o Brasil?

Lei de migração de 2017 facilitou a entrada de cientistas, o exercício profissional e a decisão de permanecer país


Eduardo Bessa

pesquisador de ecologia da Universidade de Brasília (UnB)

Agência Bori
serviço de apoio à imprensa na cobertura da ciência

A fuga de cérebros brasileiros para o exterior é um problema conhecido e que retorna regularmente às manchetes dos jornais do país. Estimava-se que o Brasil tenha perdido 6,7 mil pesquisadores entre 2015 e 2022. Pouco se fala, no entanto, que também existe uma migração de cientistas estrangeiros para instituições de pesquisa brasileiras que ajuda a construir a ciência brasileira.

Esse é o caso dos doutorandos Manuel de Jesus Borges, de Cabo Verde, e Perla Bahena, do México. Manuel narra emocionado sua partida de Cabo Verde, onde nasceu e passou sua infância e adolescência.

“Sempre acreditei no poder da educação, sempre procurei aprender, mesmo perante adversidades.” 

Em 2016 Manuel deixou família e amigos para trás e veio para o Ceará cursar Biologia na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Hoje ele está iniciando o doutorado em Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), mesma instituição onde cursou seu mestrado.

A mexicana Perla, doutoranda pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Sorocaba insistiu por dois anos até vir ao Brasil em 2018 com uma bolsa CONACYT. 

Ela queria tanto viajar e conhecer pessoas e culturas novas, quanto explorar metodologias de pesquisa e a biodiversidade brasileira. Sua pesquisa aborda peixes de riacho da Mata Atlântica paulista. 

A saúde sempre faz Perla pensar em voltar para o México, seja durante a pandemia, seja uma internação por pancreatite em 2022. “Fui tomada pelo medo de morrer longe da minha família”. 

Perla considera voltar ao México depois que defender no final deste ano, mas não nega que gostaria de se estabelecer no Brasil. O vínculo dela com o país se aprofundou no início de 2024 com o nascimento de sua filha, Emily.

Semelhante aos emigrados do Brasil para o exterior, pesquisadores que se mudaram para cá sofrem com a saudade de casa e com contrastes culturais. 

Curiosamente, o que os atrai para o Brasil se parece com o que leva nossos cientistas a ir embora: estabilidade econômica, condições sociais e científicas e oportunidades profissionais. Isso mostra haver um enorme espectro de condições de vida para cientistas em todo o mundo.

Um edital da Faperj trouxe nove pesquisadores de zonas de conflito como Ucrânia e Síria para atuarem no estado do Rio de Janeiro em 2023. A nova lei de migração, de 2017, facilitou a entrada, o exercício profissional e a decisão de permanecer no Brasil para cientistas estrangeiros. 

O Programa GCUB recebeu mais de 1500 inscritos em 2022 e trouxe quase 300 cientistas. Esse programa oferece também oportunidades direcionadas, como 480 vagas para pós-graduandos da América Latina e Caribe e 120 para Moçambique em mais de 40 instituições brasileiras. 

Só na UnB, entre 2016 e 2022, 391 cientistas estrangeiros tiveram interesse em desenvolver suas pesquisas por aqui. Esse valor corresponde a um terço do volume de brasileiros indo ao exterior.

Não há dúvida que a ciência brasileira tem um longo caminho a percorrer em busca de excelência. Ainda abrimos vagas para apenas 5% dos doutores formados no Brasil, os financiamentos a projetos são disputados e a remuneração de cientistas é baixa em comparação com outros países e com categorias com menor escolaridade no país. 

No entanto, nossas condições atuais são atraentes para alguns cientistas estrangeiros que têm muito a contribuir com o desenvolvimento brasileiro e que devem ser bem recebidos para permanecerem por aqui.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Registro de 'trigamia' é 'putaria', afirma psicóloga cristã

Marisa Lobo disse que, ao saber do caso, desejou a volta logo de Jesus A psicóloga Marisa Lobo (foto) ficou indignada com o registro de um contrato por um cartório de Tupã (SP) onde duas mulheres e um homem declaram ter envolvimento emocional entre si, vivendo sob o mesmo teto há três anos. Para a “psicóloga cristã”, como ela se apresenta, o nome dessa união é “orgia” e o que o cartório legalizou foi uma “putaria”. Ela disse ter usado essa palavra para se “fazer entender sem falsos moralismos”. De acordo com o cartório, o trio oficializou a sua união, estabelecendo as mesmas regras de um casamento tradicional, para garantir os direitos de cada um deles e dos filhos, como o de herança. Um deles foi nomeado como administrador dos bens. Lobo escreveu que, quando tomou conhecimento dessa “trigamia”, teve vontade de pedir “Jesus, volte logo”, porque se lembrou da decadência moral de Sodoma e Gomorra. “Como membro da sociedade estou chocada, como profissional e militante

Capela em centro espacial é absurdo, afirma estudante

do leitor Sérgio "Este prédio da capela poderia abrigar um bom laboratório" Sou físico e aluno de doutorado do INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] em São José dos Campos (SP) e gostaria de fazer um breve comentário. Há 5 anos, quando ingressei no mestrado no instituto, fique fascinado com a estrutura física/financeira oferecida ao desenvolvimento da pesquisa. Sinceramente não tenho do que me queixar, mas uma coisa  chama muito atenção (não só a minha, claro). É que dentro do INPE (um centro de pesquisa principalmente física), acreditem, tem uma capela para oração. No local que é considerado o maior centro de pesquisa tecnológica da America Latina (a Nasa brasileira, como muitos dizem) existe tal absurdo. Esse prédio poderia, por exemplo, abrigar um bom laboratório ou coisa mais útil. O INPE (englobando todas as áreas – astrofísica, meteorologia, sensoriamento, engenharia de materiais, etc.) é formado por pesquisadores/cientistas de várias partes do mu

Pregação de químico contra evolução preocupa cientistas

O bioquímico evangélico Eberlin diz que  teoria da evolução é falácia Um grupo de cientistas enviou em março uma carta à ABC (Academia Brasileira de Ciência) manifestando “preocupação com a tentativa de popularização de ideias retrógradas que afrontam o método científico”. Trata-se de uma referência ao bioquímico evangélico Marcos Eberlin (foto), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que também é membro da academia. O bioquímico tem se destacado pelas suas pesquisas sobre uma técnica para medir massas e composição de moléculas e pelas palestras onde critica a teoria da evolução, de Charles Darwin (1809-1882), com a afirmação de que a ciência tem produzido cada vez mais dados indicativos de que existe uma mente inteligente por detrás de toda a criação. Eberlin defende a ideia do design inteligente segundo a qual não houve na Terra evolução da vida, que é, no seu entendimento, uma obra de Deus. “'Não aceito a evolução porque as evidências químicas que ten

Responda cristão: Deus criou as estrelas antes ou depois da Terra?

Escritor brasileiro ateu submete-se à eutanásia: 'Quem decide se minha vida vale a pena sou eu'

Conar cede a religiosos e veta Jesus de anúncio da Red Bull

Mostrar Jesus andando no rio é uma 'ofensa ' O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) se curvou diante da censura religiosa e suspendeu o anúncio da Red Bull que apresenta uma versão bem humorada de um dos milagres de Jesus. Ao analisar cerca de 200 reclamações, o órgão concluiu que o anúncio “desrespeita um objeto da fé religiosa”. O “desrespeito” foi Jesus ter dito que, na verdade, ele não andou sobre as águas, mas sobre as pedras que estavam no rio. Religiosos creem em milagres, mas impor essa crença a um anúncio é atentar contra a liberdade de expressão de uma sociedade constituída pela diversidade cultural e religiosa. O pior é que, pela decisão do Conar, a censura se estende aos futuros anúncios da Red Bull, os quais não poderão “seguir a mesma linha criativa”. Ou seja, a censura religiosa adotada pelo Conar “matou”, nesse caso, a criatividade antes mesmo de sua concepção — medida típica de regimes teocráticos. "Jesus

Glauciane foi morta por homem casado que conheceu no Orkut

Glauciane era divorciada e  tinha dois filhos pequenos Uma pessoa que se assina como Mih escreveu no dia 16 de novembro de 2009 na página do Orkut de Anne Isa Marcelo para que ela se afastasse de um homem. “Ele já provou que só te traz sofrimentos e, se está com aquela mulher, é porque é isso que realmente quer. Amor só é bom quando nos traz coisas boas.” Anne não conseguiu se afastar do homem casado que ela conheceu em 2007 no Orkut e na sexta-feira (4) à tarde foi assassinada a facadas no rosto, pescoço, tórax e braço por ele em Torres, no Rio Grande do Sul, defronte ao Hotel Bauer, onde ela estava hospedada. Uma testemunha disse que houve umas 20 facadas. Anne Isa Marcelo era o nome no Orkut da médica Glauciane Hara (foto), 39, de Pindamonhangaba (SP). Ela era divorciada e tinha dois filhos pequenos. Trabalhava na Santa Casa da cidade como pediatra e clínica geral. O homem é o marceneiro Rodrigo Fraga da Silva, 33, casado há 13 anos. Ele se apresentou hoje à polícia,

No site do Silas Malafaia, até cãozinho ora antes de comer

Pieguice religiosa converte cachorrinho ao cristianismo O Verdade Gospel, site do pastor Silas Malafaia, reproduziu um vídeo [ver abaixo] do Youtube onde um cãozinho tem de juntar as patinhas dianteiras, como se estivesse orando, para poder comer. Em inglês, a dona do cachorro diz ser “preciso rezar antes comer”. Os editores do site não deram conta de que o vídeo, para quem tem um mínimo de perspicácia, iguala o discernimento de um cão ao de um crente, ficando subentendido que ambos podem ser adestrados para orar em determinados momentos. Afora isso, ao mostrar que até bichos podem ser convertidos ao cristianismo, o vídeo é mais uma demonstração de pieguice religiosa que tem se alastrado na internet e emissoras de TV brasileiras. Cãozinho cristão Com informação do Verdade Gospel . Pastores gravam vídeo em chiqueiro e comparam os fiéis aos porcos. março de 2011