Toxinas de animais peçonhentos podem ajudar no combate de leucemias, por exemplo
Gabriela Cupani
jornalista
Agência Einstein
serviço de apoio à imprensa na cobertura da ciência e saúde financiado pelo Hospital Israelita Albert Einstein
Pesquisadores brasileiros estão estudando o potencial terapêutico dos venenos de cobra e de aranha para a produção de medicamentos. As toxinas da jararaca e da aranha-caranguejeira, por exemplo, mostraram efeitos promissores para o tratamento de doenças do sangue e até de tumores.
Esse é um campo no qual o Brasil se destaca e que já rendeu medicamentos em uso no mundo todo. Um deles, o Captopril, uma das drogas mais utilizadas para tratar a hipertensão, foi desenvolvida a partir de pesquisas brasileiras feitas na década de 1960 com o veneno da jararaca.
Para ajudar o animal a caçar ou se defender, as peçonhas têm uma diversidade de efeitos, por exemplo, na coagulação do sangue e na atividade neuromuscular.
“Elas têm um efeito direto nas plaquetas ou em proteínas do sangue, com ação anticoagulante ou, ao contrário, pró-coagulante, e por isso podem se tornar alternativas para o tratamento de doenças trombóticas, hemorragias e distúrbios da coagulação”, diz a professora Carla Cristine Neves Mamede, da UFU, uma das autoras do trabalho.
Apesar da variedade de componentes e efeitos biológicos, até hoje apenas uma proteína do veneno da jararaca-caiçaca, a Batroxobin, serviu para o desenvolvimento de remédios usados para tratar doenças cardiovasculares. Já o veneno da aranha-caranguejeira (Vitalius wacketi) vem sendo estudado por cientistas do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Butantan pelo potencial contra o câncer.
Há mais de 20 anos, o bioquímico Thomaz Rocha e Silva observou que a toxina desse animal tinha ação citotóxica, ou seja, era capaz de matar células.
Gabriela Cupani
jornalista
Agência Einstein
serviço de apoio à imprensa na cobertura da ciência e saúde financiado pelo Hospital Israelita Albert Einstein
Pesquisadores brasileiros estão estudando o potencial terapêutico dos venenos de cobra e de aranha para a produção de medicamentos. As toxinas da jararaca e da aranha-caranguejeira, por exemplo, mostraram efeitos promissores para o tratamento de doenças do sangue e até de tumores.
Esse é um campo no qual o Brasil se destaca e que já rendeu medicamentos em uso no mundo todo. Um deles, o Captopril, uma das drogas mais utilizadas para tratar a hipertensão, foi desenvolvida a partir de pesquisas brasileiras feitas na década de 1960 com o veneno da jararaca.
Para ajudar o animal a caçar ou se defender, as peçonhas têm uma diversidade de efeitos, por exemplo, na coagulação do sangue e na atividade neuromuscular.
Veneno de serpente mata células, característica que pode ser usada na formulação de medicamentos |
Recentemente, um estudo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em parceria com a Universidade Federal de Catalão (GO) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, revisou 84 pesquisas brasileiras e constatou que a peçonha da serpente jararaca-caiçaca (Bothrops moojeni) tem 23 proteínas que agem na chamada hemostasia — a capacidade de o sangue fluir sem coágulos nem hemorragias — de diversas formas.
“Elas têm um efeito direto nas plaquetas ou em proteínas do sangue, com ação anticoagulante ou, ao contrário, pró-coagulante, e por isso podem se tornar alternativas para o tratamento de doenças trombóticas, hemorragias e distúrbios da coagulação”, diz a professora Carla Cristine Neves Mamede, da UFU, uma das autoras do trabalho.
Apesar da variedade de componentes e efeitos biológicos, até hoje apenas uma proteína do veneno da jararaca-caiçaca, a Batroxobin, serviu para o desenvolvimento de remédios usados para tratar doenças cardiovasculares. Já o veneno da aranha-caranguejeira (Vitalius wacketi) vem sendo estudado por cientistas do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Butantan pelo potencial contra o câncer.
Há mais de 20 anos, o bioquímico Thomaz Rocha e Silva observou que a toxina desse animal tinha ação citotóxica, ou seja, era capaz de matar células.
“Descobrimos uma poliamina (molécula da toxina) com uma ação interessante”, conta o pesquisador.
Posteriormente, a toxina foi isolada, purificada e sintetizada pelo Instituto Butantan.
Atualmente, essa versão da molécula, feita em laboratório, está sendo testada contra leucemias resistentes e apresentou resultados promissores, pois, em contato com as células tumorais, ela conseguiu induzir a morte delas.
Atualmente, essa versão da molécula, feita em laboratório, está sendo testada contra leucemias resistentes e apresentou resultados promissores, pois, em contato com as células tumorais, ela conseguiu induzir a morte delas.
O próximo passo é avaliar a segurança e a eficácia em cobaias. Só depois seria possível começar os testes em pessoas.
“É um trabalho de muitos anos e é preciso também avaliar a viabilidade de produção e o custo/benefício”, explica Rocha e Silva. Isso porque as proteínas, após isoladas e sintetizadas, precisam ser modificadas para dar origem aos medicamentos.
“Precisamos testar centenas de moléculas para achar uma que funcione. Queremos mudar a realidade do tratamento de muitos tumores que têm baixa chance de cura. Se mudarmos 1% a chance de cura, já valeu a pena, pois são vidas sendo salvas”, explica o bioquímico.
“Essas pesquisas aumentam a possibilidade de suprir deficiências nos tratamentos tradicionais, minimizando a ocorrência de efeitos colaterais, por exemplo, e podem aumentar o número de medicamentos voltados a tratar e diagnosticar várias doenças”, diz a professora Mamede, da UFU.
Já o bioquímico ressalta que esses estudos ajudam a preservar a nossa riqueza biológica e devem estimular a educação das pessoas, até para prevenir acidentes e preservar os animais silvestres.
“É um trabalho de muitos anos e é preciso também avaliar a viabilidade de produção e o custo/benefício”, explica Rocha e Silva. Isso porque as proteínas, após isoladas e sintetizadas, precisam ser modificadas para dar origem aos medicamentos.
“Precisamos testar centenas de moléculas para achar uma que funcione. Queremos mudar a realidade do tratamento de muitos tumores que têm baixa chance de cura. Se mudarmos 1% a chance de cura, já valeu a pena, pois são vidas sendo salvas”, explica o bioquímico.
“Essas pesquisas aumentam a possibilidade de suprir deficiências nos tratamentos tradicionais, minimizando a ocorrência de efeitos colaterais, por exemplo, e podem aumentar o número de medicamentos voltados a tratar e diagnosticar várias doenças”, diz a professora Mamede, da UFU.
Já o bioquímico ressalta que esses estudos ajudam a preservar a nossa riqueza biológica e devem estimular a educação das pessoas, até para prevenir acidentes e preservar os animais silvestres.
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