Rubén Martín Escolano
Amanda Fernández Rodríguez
Isidoro Martínez González
María Angeles Jiménez Sousa
Salvador Resino García
pesquisadores do Instituto de Salud Carlos III, Espanha
Os vírus são muito menores que as bactérias e são encontrados em todos os ecossistemas da Terra.
Eles não são células nem têm metabolismo próprio, mas podem replicar-se nas células de outros organismos, incluindo humanos.
Isso os torna uma ameaça onipresente, embora também existam alguns que podem nos acompanhar desde o nascimento e que podem até ser benéficos para a nossa saúde, como descobriremos mais tarde.
Múltiplas rotas de propagação
Essas pequenas entidades podem ser transmitidas de diversas maneiras.
Existem aqueles que se espalham pelo contato direto com as mucosas ou a pele de uma pessoa infectada.
Outros se espalham pelo ar por meio de pequenas gotículas liberadas ao tossir ou espirrar, por picadas de insetos ou por superfícies contaminadas.
Finalmente, alguns vírus podem ser transmitidos de mãe para filho durante a gravidez ou o parto.
A velocidade com que os vírus se multiplicam e mudam (mutam) permite-lhes adaptar-se rapidamente a novas condições, escapar ao sistema imunitário e desenvolver resistência aos medicamentos. Isto facilita a sua rápida propagação e torna-os uma ameaça à saúde global.
Vírus causadores de doenças e “vírus órfãos”
Se olharmos para dentro dos seres humanos, podemos encontrar tanto vírus patogênicos quanto vírus não patogênicos.
Os primeiros, como o vírus da constipação comum, o vírus da gripe, o vírus da SIDA, o SARS-CoV-2, os poliovírus ou os vírus da hepatite, tiveram um impacto profundo na saúde e na sociedade ao longo da história.
Além disso, alguns dos vírus que nos deixam doentes podem se instalar no corpo sem causar sintomas, estabelecendo infecções estáveis de baixo nível.
Os seres humanos são um ecossistema ideal para vírus. Temos grande diversidade deles, uma flora viral que varia dependendo do indivíduo e que pode ter efeitos positivos ou negativos na nossa saúde. |
Especula-se que esses patógenos possam ajudar a manter o sistema imunológico preparado para responder a novas infecções. Mas também podem aumentar o risco de sofrer de uma doença causada diretamente pelo vírus ou, indiretamente, mediante inflamação crônica e ativação do sistema imunitário, como ocorre com os herpesvírus.
Já os vírus não patogênicos, como os torquetenovírus, são chamados de “vírus órfãos” porque não foram associados a nenhuma doença. Porém, seu estudo é importante, pois podem causar complicações clínicas em pessoas imunossuprimidas e ser potenciais patógenos de novas doenças.
Um estudo recente da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis (Estados Unidos), descreveu que 92% das pessoas saudáveis abrigam de um a quinze vírus de DNA em seus fluidos corporais, e que cada indivíduo tem um perfil viral distinto.
A maioria são herpesvírus e papilomavírus humanos, que, juntamente com poliomavírus, adenovírus e parvovírus, são as famílias de vírus mais comumente encontradas em amostras de indivíduos saudáveis.
Retrovírus, transposons e bacteriófagos
O caso dos retrovírus merece menção especial. Embora seu material genético seja o RNA, eles conseguem convertê-lo em DNA e integrá-lo aos nossos genes, permanecendo adormecidos por toda a vida.
Dentro desse grupo encontramos os chamados “retrovírus exógenos”, que infectam as células de fora e depois se integram ao DNA.
É assim que atuam o vírus da imunodeficiência humana (HIV ou vírus da AIDS) ou o vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1 (HTLV-1).
Por outro lado, os “retrovírus endógenos” estão integrados no nosso DNA de forma endógena. Essas sequências, conhecidas como HERV (de RetroVirus Endógeno Humano ), são remanescentes de infecções que ocorreram ao longo da evolução e ocupam aproximadamente 8% do nosso genoma.
Os transposons, conhecidos como “vírus saltadores” porque se movem no genoma, também nos acompanham desde o nascimento.
Eles parecem derivar de vírus antigos que se integraram ao genoma humano e perderam a capacidade de deixar as células para se tornarem elementos autônomos. Os transposons podem causar mutações e alterar a expressão dos nossos genes, causando doenças como o câncer.
E, finalmente, os bacteriófagos – vírus que infectam bactérias – são abundantes no corpo e desempenham um papel crucial na regulação da nossa flora bacteriana. Portanto, têm ganhado atenção como potenciais ferramentas terapêuticas para combater infecções causadas por bactérias, especialmente diante do aumento da resistência aos antibióticos.
O importante papel da microbiota viral ou viroma
Pode-se concluir que, assim como temos uma microbiota bacteriana, também existe uma microbiota viral ou viroma, que é rica e complexa e varia de indivíduo para indivíduo.
Os efeitos da microbiota viral que vive em nós são diversos e nem sempre prejudiciais. Alguns retrovírus endógenos evoluíram e têm funções benéficas.
Por exemplo, o HERV-W é fundamental na produção de sincitina, uma proteína crucial para a formação da placenta.
Certos HERVs tiveram funções essenciais na evolução dos vertebrados, como a regulação da produção de mielina, vital para a evolução do cérebro. Em contraste, a ativação de outros HERVs, como o HERV-K, tem sido associada à esclerose lateral amiotrófica (ELA).
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