Se há no Brasil uma democracia que não corre risco de golpe é a democracia da credulidade em pseudociências. Aqui quase todos — imagino — acreditam em tudo: homeopatia, cura pelas mãos, florais, macumba, dedos cruzados, entre outras “forças positivas”
Eu estava sob as luzes (ainda apagadas) da mesa do centro cirúrgico quando o doutor Joaquim me fez a pergunta protocolar para saber se eu era eu mesmo.
— Em que dia, mês e ano você nasceu?
Por exemplo: se naquele centro cirúrgico os médicos tivessem dado indícios de que levam a sério a astrologia, se o dr. Joaquim consultasse meu mapa astral antes de me operar, eu sairia correndo dali.
No início de minha carreira de jornalista, eu trabalhava na Tribuna de São Carlos, no interior paulista. O jornal tinha uma seção de horóscopo, com texto que não mudava, alternando-se apenas os signos. Desse jeito, as previsões para as pessoas de Leão de um dia eram as mesmas para as Libra em outra data, com o mesmo texto, para aproveitar a digitação, economizar trabalho. Era a seção mais lida do jornal e nunca nenhum leitor reclamou.
A astrologia é uma das enganações mais antigas da humanidade. É há registro dela de 3.500 anos, da primeira metade da dinastia Hamurábi, da Babilônia. Ela vem sobrevivendo a gerações, embora haja informações de sobra provando que se trata de uma besteira, como no vídeo abaixo de Carl Sagan.
Há alguns anos tentei provar a um amigo que a astrologia não tem o menor sentido.
Depois de alguns argumentos, obteve esta resposta:
Paulo Lopes
jornalista, trabalhou na Folha de S.Paulo, Agência Folha, Diário Popular, Editora Abril (onde foi premiado) e em outras publicações
— Em que dia, mês e ano você nasceu?
Ao responder, tentei me descontrair naquelas circunstâncias:
— Sou do signo de escorpião, mas não acredito em horóscopo. Acredito na ciência.
O anestesista Juliano comentou ser lamentável que até pessoas com curso superior, da elite educacional, acreditarem em horóscopo.
O anestesista Juliano comentou ser lamentável que até pessoas com curso superior, da elite educacional, acreditarem em horóscopo.
A sedação começara a fazer efeito, e a conversa foi interrompida quando eu me preparava para argumentar que no Brasil a ignorância científica dos diplomados é tão grande quanto à do povão.
Suponho que abrangência dessa ignorância qualificada se deva à precariedade histórica do ensino brasileiro, do básico ao superior.
Não se incentiva nas escolas o método científico, não se fala da navalha de Ockham, não se ensina a questionar.
Suponho que abrangência dessa ignorância qualificada se deva à precariedade histórica do ensino brasileiro, do básico ao superior.
Não se incentiva nas escolas o método científico, não se fala da navalha de Ockham, não se ensina a questionar.
É o que explica o prestígio não só da astrologia, mas também da homeopatia, acupuntura, constelação familiar, espiritismo, bruxaria, cura pelas mãos, florais e por aí vai.
A crença nessas bobagens é tão grande que algumas delas são oferecidas pelo SUS — um gasto público desnecessário mantido por governo de direita, de Bolsonaro, e por de esquerda, Lula.
Eu sempre fico com um pé atrás diante a quem acredita em pensamentos mágicos, principalmente quando isso pode me afetar alguma forma.
Por exemplo: se naquele centro cirúrgico os médicos tivessem dado indícios de que levam a sério a astrologia, se o dr. Joaquim consultasse meu mapa astral antes de me operar, eu sairia correndo dali.
No início de minha carreira de jornalista, eu trabalhava na Tribuna de São Carlos, no interior paulista. O jornal tinha uma seção de horóscopo, com texto que não mudava, alternando-se apenas os signos. Desse jeito, as previsões para as pessoas de Leão de um dia eram as mesmas para as Libra em outra data, com o mesmo texto, para aproveitar a digitação, economizar trabalho. Era a seção mais lida do jornal e nunca nenhum leitor reclamou.
A astrologia é uma das enganações mais antigas da humanidade. É há registro dela de 3.500 anos, da primeira metade da dinastia Hamurábi, da Babilônia. Ela vem sobrevivendo a gerações, embora haja informações de sobra provando que se trata de uma besteira, como no vídeo abaixo de Carl Sagan.
Há alguns anos tentei provar a um amigo que a astrologia não tem o menor sentido.
Depois de alguns argumentos, obteve esta resposta:
— O que você diz é típico de quem é de escorpião.
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