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Cientistas acham na Austrália a mais antiga cratera de meteorito, com mais de 3,5 bilhões de anos

O impacto na terra considerado o mais distante no tempo está localizado na região de Pilabara, na Austrália Ocidental



The Conversationl
plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas

Acabamos de descobrir a cratera de impacto de meteorito mais antiga da Terra, bem no coração da região de Pilbara, na Austrália Ocidental. 

A cratera se formou há mais de 3,5 bilhões de anos, o que a torna a mais antiga conhecida por uma diferença de mais de um bilhão de anos. Nossa descoberta foi publicada na revista científica Nature Communications.

      Foto de Tim Johnson

A cratera estava
exatamente onde
esperávamos que
estivesse, e sua
descoberta apoia
uma teoria sobre
o surgimento dos
continentes


As primeiras rochas

As rochas mais antigas da Terra se formaram há mais de 3 bilhões de anos e são encontradas nos núcleos da maioria dos continentes modernos. Entretanto, os geólogos ainda não concordam sobre como ou por que elas se formaram.

Há um consenso de que esses primeiros continentes foram fundamentais para muitos processos químicos e biológicos na Terra.

Muitos geólogos acreditam que essas rochas antigas se formaram acima das plumas quentes que se elevaram sobre o núcleo metálico fundido da Terra, como a cera em uma lâmpada de lava. 

Outros afirmam que elas se formaram por processos da tectônica de placas semelhantes aos da Terra moderna, em que as rochas colidem e se empurram umas às outras por cima e por baixo.

Embora esses dois cenários sejam muito diferentes, ambos são impulsionados pela perda de calor do interior do nosso planeta.

Pensamos de forma bastante diferente.

Há alguns anos, publicamos um artigo sugerindo que a energia necessária para formar os continentes em Pilbara veio de fora da Terra, na forma de uma ou mais colisões com meteoritos de muitos quilômetros de diâmetro.

À medida que os impactos explodiam enormes volumes de material e derretiam as rochas ao redor deles, o manto abaixo produzia “bolhas” espessas de material vulcânico que evoluíram para formar a crosta continental.

Nossa evidência, então, estava na composição química de minúsculos cristais do mineral zircão, aproximadamente do tamanho de grãos de areia. Mas para persuadir outros geólogos, precisávamos de evidências mais convincentes, de preferência algo que as pessoas pudessem ver sem precisar de um microscópio.

Assim, em maio de 2021 começamos a longa viagem de Perth para o norte da Austrália para duas semanas de trabalho de campo em Pilbara, onde nos encontraríamos com nossos parceiros do Geological Survey of Western Australia (GSWA) para caçar a cratera. Mas por onde começar?

Um começo fortuito

Nosso primeiro alvo foi uma camada incomum de rochas conhecida como Antarctic Creek Member, que aparece nos flancos de um domo com cerca de 20 quilômetros de diâmetro. O

 Antarctic Creek Member tem apenas cerca de 20 metros de espessura e é composto principalmente por rochas sedimentares que estão imprensadas entre vários quilômetros de lava basáltica escura.

No entanto, também contém esférulas — gotículas formadas por rocha derretida lançada durante um impacto. Mas essas gotas podem ter atravessado o globo a partir de um impacto gigante em qualquer lugar da Terra, muito provavelmente de uma cratera que já foi destruída.

Após consultar os mapas e as fotografias aéreas da GSWA, localizamos uma área no centro de Pilbara ao longo de uma trilha empoeirada para iniciar nossa busca. Estacionamos os veículos offroad e seguimos caminhos separados pelos afloramentos, mais na esperança do que na expectativa, combinando de nos encontrarmos uma hora depois para discutir o que havíamos encontrado e comer alguma coisa.

Notavelmente, quando retornamos aos veículos, todos pensamos havermos encontrado a mesma coisa: cones de fragmentação.

Os cones de fragmentação são estruturas ramificadas bonitas e delicadas, não muito diferentes de uma peteca de badminton. Eles são a única característica do choque visível a olho nu e, na natureza, só podem se formar após o impacto de um meteorito.

Pouco mais de uma hora depois de nossa busca, encontramos exatamente o que estávamos procurando. Tínhamos literalmente aberto as portas de nossos veículos com tração nas quatro rodas e pisado no chão de uma enorme e antiga cratera de impacto.

Infelizmente, depois de tirar algumas fotos e recolher algumas amostras, tivemos que seguir para outros locais, mas decidimos voltar o mais rápido possível. O mais importante é que precisávamos saber a idade dos cones de fragmentação. Teríamos descoberto a cratera mais antiga conhecida na Terra?

Descobrimos que sim.

Ida e volta

Com algumas pesquisas de laboratório em andamento, retornamos ao local em maio de 2024 para passar dez dias examinando as evidências com mais detalhes.

Os cones de fragmentação estavam por toda parte, desenvolvidos na maior parte do Antarctic Creek Member, que rastreamos por várias centenas de metros até as colinas onduladas de Pilbara.

Nossas observações mostraram que, acima da camada com os cones de fragmentação, havia uma camada espessa de basalto sem evidência de choque de impacto. Isso significava que o impacto deveria ter a mesma idade das rochas do Antarctic Creek Member, que sabemos ter 3,5 bilhões de anos.

Tínhamos nossa idade e o registro da cratera de impacto mais antiga da Terra. Talvez nossas ideias sobre a origem final dos continentes não fossem tão loucas, como muitos nos disseram.


    Foto de Tim Johnson

Grandes cones
de fragmentação
semelhantes a
cabanas nas
rochas do Antarctic
Creek Member no
local da descoberta.
As rochas no topo
da colina, mais à
esquerda, são
basaltos que ficam
sobre os cones
de fragmentação

A serendipidade é uma coisa maravilhosa. Até onde sabíamos, além dos proprietários tradicionais, o povo Nyamal, nenhum geólogo havia visto essas características impressionantes desde sua formação.

Como alguns outros antes de nós, argumentamos que os impactos de meteoritos desempenharam um papel fundamental na história geológica de nosso planeta, como claramente aconteceu em nossa Lua cheia de crateras e em outros planetas, luas e asteroides

Agora, nós e outros temos a chance de testar essas ideias com base em evidências concretas.

Quem sabe quantas crateras antigas ainda não foram descobertas nos núcleos antigos de outros continentes? Descobri-las e estudá-las transformará nossa compreensão da Terra primitiva e do papel dos impactos gigantes, não somente na formação das massas de terra em que todos vivemos, mas na própria origem da vida.

> Este artigo foi publicado originalmente em inglês.

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