Paulo Lopes / Notas de confinamento No começo da quarentena, a minha filha Paula disse que eu não teria dificuldade com o isolamento social porque sou naturalmente recluso. É verdade. Talvez por ser um “idoso com comorbidade”, para usar um termo do dicionário da pandemia, a minha percepção do passar do tempo se aguçou e eu tenho procurado fazer o que mais me agrada e ficar com quem mais gosto. 'NUNCA MAIS' O que mudou na quarentena é que o meu dia-noite ficou bagunçado. Não tenho hora para dormir, acordar, tomar café, almoçar e jantar. Me perdi no calendário. Outro dia (ou noite), ao acordar, perguntei para minha mulher se era quinta, segunda ou sábado. Foi uma brincadeira minha, porque, nestes dias de peste, não faz a mínima diferença saber em que dia estamos, pelo menos para mim, embora me permaneça a sensação de que o tempo está se esvaindo cada vez mais rápido. Diante de tantas pessoas morrendo, a ponto de não haver caixões para todas, acordar, não im